Diogo Costa atirou água benta para cima de todos os pecados de Portugal
O guarda-redes da seleção nacional parou três penáltis consecutivos no desempate contra a Eslovénia, depois de um nulo ao final dos 120 minutos e Portugal está nos quartos de final do Euro, onde vai jogar com a França. Diogo limpou uma série de equívocos cometidos pela seleção nacional e quando foi preciso um herói, ele apareceu a fechar a baliza
Diogo Costa atirou água benta para cima de todos os pecados de Portugal
Cada defesa de Diogo Costa nos penáltis contra a Eslovénia foi como atirar um jarro de água benta a cada pecado cometido por Portugal neste jogo dos oitavos de final do Euro 2024. Uma, duas, três vezes, três vezes se lançou e três vezes impediu a bola de entrar na baliza, dando à seleção nacional mais uma oportunidade, depois de um jogo em que aconteceu um pouco de tudo, muito por culpa própria e auto-infligida. Houve equívocos, grandes equívocos, houve drama. E houve, no fim, um guarda-redes que se afastou de tudo isto para salvar uma equipa, depois de um nulo que durou 120 minutos. Portugal segue agora para Hamburgo, onde vai jogar com a França nos quartos de final, na próxima sexta-feira.
Muito se teorizou sobre a capacidade organizativa da Eslovénia, a facilidade em defender e deixar os adversários desconfortáveis no ataque, mas Portugal nem se pode queixar de falta de espaço, algo que se temia - houve bem mais verde para explorar do que no jogo contra a Chéquia, por exemplo. A equipa começou bem na pressão e reação e o resto foi fazendo Vitinha, impávido mesmo rodeado de camisolas brancas, sempre na busca de linhas de passe, na forma como os seus pés baralharam os pés e os corpos alheios. Os cruzamentos pelo lado direito e as arrancadas de Leão do lado oposto iam permitindo chegar ao último terço, mas aí a seleção nacional falhou. Bruno Fernandes chegou ligeiramente atrasado a um cruzamento de Bernardo aos 13’ e Ronaldo nunca se encontrou com algo que sempre foi uma das suas armas: o timing de impulsão e de ataque à bola. E não é de hoje.
O capitão não esteve, no entanto, longe do golo num livre direto frontal. Só que depois entusiasmou-se demasiado ao tentar marcar outro, agora lateral, de um ângulo quase impossível, desperdiçando o que poderia ser mais uma bola para a área e um lance de perigo para Portugal - e bem sabemos como eles estão caros neste Europeu.
A Eslovénia, depois de pelos 20 minutos ter intensificado alguma pressão, sem grandes resultados, apareceu já perto do intervalo num lance rápido pela direita, com Stojanovic a ganhar na velocidade à defesa portuguesa e lançar para a área. Salvou Nuno Mendes quando Sporar, que conhece bem, já se preparava para rematar. Pouco depois foi Sesko a surgir em posição frontal (e proibida), com espaço para o tiro, que saiu à figura de Diogo Costa.
A 1.ª parte terminaria com um dos melhores lances e oportunidades para a seleção nacional: Leão, na insistência, passou por dois adversários, cruzou rasteiro e atrasado, com Palhinha a rematar ao poste.
João Cancelo, pela direita, seria um dos grandes animadores da 2.ª parte para Portugal, mas os cruzamentos do jogador do Barcelona tenderam a encontrar adversários pelo caminho. Ronaldo marcou mais alguns livres diretos inconsequentes. Do outro lado, Sesko voltou a assustar, ganhando compreensivelmente em velocidade a um solitário Pepe, mas o mais veterano de sempre a jogar num Europeu ainda teve a capacidade de atrapalhar o avançado esloveno. Não houve muito mais do ataque da equipa balcânica, com as tentativas de transição a serem, quase sempre, bem resolvidas por Portugal.
Mal resolvida, bem mal resolvida, ficou a equipa portuguesa quando, aos 65’, Roberto Martínez tirou Vitinha de campo para colocar Diogo Jota. Pouco depois, lançou Francisco Conceição para o lugar de Rafael Leão, à esquerda. Sem Leão, Portugal perdeu a capacidade de desequilibrar em drible. E sem Vitinha perdeu o cérebro, a capacidade de pensar o jogo. Deixou de dominar a posse, deixou de ter capacidade de baralhar a pressão adversária. Não havendo uma questão física, é incompreensível. E uma pena.
Daí para a frente, Portugal só criou verdadeiramente perigo já muito perto do final, num lançamento de Diogo Jota que deixou Cristiano Ronaldo na cara de Oblak. Oblak, que continua a ser um dos melhores do mundo, defendeu seguro.
No prolongamento, ficou evidente a inexistência do meio-campo de Portugal, com posse mas sem grandes soluções. O penálti cometido sobre Diogo Jota, entrando sozinho pela área dentro, era, por isso, uma oportunidade de ouro. Cristiano Ronaldo, atipicamente, falhou. Jan Oblak, mais uma vez, mostrou que é um gigante guarda-redes e Ronaldo, pouco habituado e não se encontrar com os 11 metros, chorou. A equipa amparou o capitão no intervalo.
Já na 2.ª parte do prolongamento, Palhinha obrigaria o guardião do Atlético Madrid a defesa atenta mas o jogo agora já não tinha fio, de parte a parte, já era uma tentativa desesperada de evitar o cadafalso. E foi nesta espécie de rame-rame ao contrário que Pepe deixou Sesko fugir em direção à baliza, com a oportunidade de marcar um penálti, mas em movimento, e apareceu então Diogo Costa para o salvamento. Do lado de cá, também há um guarda-redes excecional.
E era apenas o aquecimento para Diogo Costa. Nos penáltis, foi herói, curandeiro, o que quiserem. O primeiro de sempre a defender três penáltis num desempate em Europeus. Roberto Martínez agradeceu-lhe e bem tem de agradecer, porque limpou alguns dos seus equívocos. As lágrimas foram, então, de alegria.