"Cuidado com o que estás a fazer". Diogo foi cabeça de lista da IL por Setúbal, depois de uma chamada de Cotrim Figueiredo caiu para último

Diogo Piteira Prates

“Eu fui o primeiro da lista da Iniciativa Liberal por Setúbal e nas legislativas a seguir passei para último, alguma coisa aconteceu, não é?”. O que aconteceu, diz Diogo Prates, foi uma chamada de João Cotrim Figueiredo, anterior líder da IL. “O João telefonou-me muito chateado com um artigo que tinha escrito sobre o futuro do partido quando ele foi eleito” – “disse-me ‘cuidado com o que tu estás a fazer’”. “Percebi aí, que não voltariam a contar comigo.”

Diogo Piteira Prates, 41 anos, médico de família, filiou-se na Iniciativa Liberal pouco depois da sua fundação, ainda com Miguel Ferreira da Silva ao leme do partido. Veio de uma passagem breve no núcleo da JSD no Seixal e com a saída de Pedro Passos Coelho da liderança social-democrata viu na IL “uma boa opção” para deixar “de ser órfão de partido”.

Por essa altura, Prates começou a escrever artigos de opinião sobre política nacional para o jornal Observador que lhe deram alguma tração dentro do partido e, em 2019, Carlos Guimarães Pinto, que tomou as rédeas da IL quando Ferreira da Silva se demitiu, convidou-o a integrar as listas para as legislativas desse ano, no primeiro lugar. A ideia era que fosse cabeça de lista por Évora, cidade onde nasceu, mas Diogo disse que isso não fazia sentido já que vivia em Setúbal desde os seus 18 anos. “Essa foi a minha vontade e, realmente, o Carlos Guimarães Pinto percebeu que fazia mais sentido e assim se concretizou.”

Naquele momento, explica, não havia praticamente núcleos fora de Lisboa e a sul do Rio Tejo “havia absolutamente nada”. “Fizemos a campanha possível”, descreve, sublinhando que ao todo fizeram “dois ou três eventos de rua” e que nesse período não tiveram a força do líder por trás. “Para se ter noção, o Carlos Guimarães Pinto nunca veio a Setúbal”, “o distrito foi esquecido”.

O resultado, diz, foi melhor do que aquele que estava à espera e Setúbal acabou mesmo por ser o distrito onde o partido foi buscar o terceiro melhor resultado. “Foi uma grande vitória, na minha opinião, e foi a partir daí, com essa base, que nós construímos depois o núcleo de Setúbal.” Diogo assumiu, inicialmente, o cargo de coordenador do núcleo e depois saiu para ir fundar o de Almada e, nota, as pessoas à sua volta viam-no numa trajetória ascendente dentro do partido.

Tanto que, quando João Cotrim Figueiredo foi eleito líder da IL na 3.ª Convenção Nacional do partido, Diogo Prates foi escolhido como um dos novos Conselheiros Nacionais. E foi nesse ambiente de festa que escreveu um artigo de opinião intitulado “Que futuro para a Iniciativa Liberal?”. Nele menciona o nome do novo líder três vezes para indicar que detinha agora a “responsabilidade de liderar o partido tanto no Parlamento como fora dele” e também o desafio de eleger um grupo parlamentar.

“Este artigo não tem nada de mau. É um artigo banalíssimo. Não faço nenhuma crítica. Não faço absolutamente nada”, refere, acrescentando que ainda hoje não sabe o que incomodou João Cotrim Figueiredo. “Tanto quanto soube depois, muito a posteriori, ele disse numa reunião da comissão executiva que eu não voltaria a ser nem candidato nem cabeça de lista pela Iniciativa Liberal.” Ficou “espantado”, recorda, acrescentando que isso não o coibiu de continuar a escrever, tendo mesmo editado um livro em 2022.

Certo é que Diogo Prates viria novamente a integrar candidaturas do partido. Primeiro em 2021, nas autárquicas, onde encabeçou a lista para a Assembleia Municipal de Almada, uma eleição em que viria a ficar em último lugar e, depois em 2022, nas legislativas onde ocupou o último lugar da lista do partido ao círculo eleitoral de Setúbal.

À frente de Diogo Prates no lugar que outrora ocupou estava Joana Cordeiro, que com o partido a obter 5,13 % dos votos, acabou por ser eleita para a Assembleia da República. Uma escolha que fez o anterior cabeça de lista começar a questionar uma das maiores bandeira da Iniciativa Liberal. “Se estás num partido que defende a meritocracia e depois tem dentro do seu partido um tipo que foi o terceiro melhor classificado enquanto cabeça de lista a Setúbal, fundou núcleos, foi candidato à Assembleia Municipal, e o primeiro lugar é atribuído a Joana Cordeiro, que era a coordenadora do núcleo do Seixal que teve o pior resultado nas eleições autárquicas, nota-se que esta meritocracia está um pouco desfasada da realidade.”

Ao contrário do que tinha acontecido em 2019, não foi o líder do partido que telefonou a Diogo para negociar o lugar nas listas para as últimas legislativas. Na verdade, a conversa decorreu com um “funcionário” da Iniciativa Liberal, Bruno Mourão Martins. “Convidou-me para ser cabeça de lista por Évora sabendo, obviamente, que eu nunca seria eleito por Évora. E sabendo que havia uma forte possibilidade, que depois se veio a concretizar, de ser eleito por Setúbal.”

A resposta foi um redondo “não”. “Eu, em 2019, assumi um compromisso com as pessoas de Setúbal, disse-lhes que queria ser o representante delas, não vou agora ser cabeça de lista por Évora.” Por isso, conta, insistiu com Bruno Mourão Martins para que colocasse o seu nome nas listas de Setúbal. “Se quiserem, estou disponível para ir em último. Assim aconteceu, fui o último.”

Contactada, fonte oficial da Iniciativa Liberal rejeita que Diogo Prates tenha sido colocado em último por causa do artigo que escreveu. O partido, acrescenta, “tem como tradição usar o último lugar das listas como um lugar de honra, como se pode comprovar consultando as listas apresentadas agora para as legislativas de 2024 com o exemplo de Lisboa. Bruno Horta Soares, o candidato à Câmara Municipal de Lisboa nas autárquicas de 2021, é o último da lista nesse círculo”.

Ora, continua, “em 2022, Diogo Prates foi o último da lista de Setúbal por ter sido o primeiro candidato nesse mesmo círculo nas legislativas anteriores, um lugar de honra, que aceitou. É assim completamente falso o que Diogo Prates agora alega, o que só pode ser explicado por, entretanto, se ter tornado militante do partido Chega”.

“Porque é que há dois licenciados em marketing no grupo parlamentar?”

Para Diogo, integrar as ações de campanha sabendo que o seu nome tinha caído 18 lugares desde as últimas eleições foi “desagradável” especialmente por atribuir essa colocação a um “delito de opinião”. “Obviamente, não foi uma coisa que me satisfizesse, mas fi-lo de cabeça erguida, plenamente consciente de que não preciso de atraiçoar, nem dar facadas nas costas para chegar aos sítios.”

Nesse momento, conta, foi também abordado por muitos militantes do partido que lhe manifestaram “espanto” pelo lugar que lhe foi atribuído. “Esperavam que fosse cabeça de lista, já que diziam que eu tinha dinamizado o distrito, mas a minha resposta foi apenas: ‘estava disponível, mas quem manda não me convidou’”, afirma, apontando que apenas participou nas ações de campanha em que Cotrim Figueiredo e Joana Cordeiro estiveram em Almada, “nos outros tinha um bebé pequeno e não participei, também acho que não fazia sentido”.

E depois seguiram-se os resultados. A Iniciativa Liberal consegue a quarta melhor votação a nível nacional e, pouco depois, Diogo Prates rescinde a militância do partido. Olhando para o grupo parlamentar que ficou, diz, “não foram escolhidos os melhores” e isso vê-se, aponta, pela formação de cada um dos deputados: gestor; advogado; advogado; advogado; advogado; licenciado em marketing; licenciado em marketing; economista e economista. “Eu pergunto-me: porque é que há dois licenciados em marketing num grupo parlamentar? O que é que isso traz de mais valia ao grupo? Quem percebe de saúde? Quem percebe de agricultura e de defesa?”

Da Iniciativa Liberal, Diogo Prates passou para o Chega, onde vê no seu líder parecenças com Sá Carneiro. De quem André Ventura diz ser o sucessor e de quem não sabe se não é a sua reencarnação. “Eu acho-lhe piada quando ele diz que é descendente do Sá Carneiro. Eu não diria tanto. Mas revejo nele a mesma energia.”

A grande diferença que encontra face ao partido de onde saiu é, desde logo, o acolhimento dado aos textos de opinião, que continua a escrever. “No último que foi publicado, o André Ventura, muito simpaticamente, mandou-me uma mensagem de parabéns. Já a única vez que falei com o João Cotrim foi para criticar aquilo que escrevi. Como não querem que me sinta melhor no Chega?”

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