João Lourenço nos EUA: "Angola optou por uma diplomacia mais activa, faz parte de um cálculo político"

João Lourenço nos EUA: “Angola optou por uma diplomacia mais activa, faz parte de um cálculo político”

É a segunda visita oficial de um Presidente angolano à Casa Branca, protagonizada desta vez por João Lourenço. O Presidente angolano vai discursar na Assembleia Geral das Nações Unidas e reunir-se com o seu homólogo norte-americano Joe Biden, para comemorar os 30 anos de relações diplomáticas entre os dois países.

O Presidente angolano João Lourenço vai encontrar-se com o seu homólogo norte-americano Joe Biden em Washington esta quinta-feira 30 de Novembro, naquela que é a segunda visita oficial de um Presidente angolano à Casa Branca.

Antes disso, em 1995, o então Presidente José Eduardo dos Santos foi recebido por Bill Clinton e em 1991 encontrou-se com o Presidente George Bush, na sua residência oficial a convite deste último.

Em entrevista à RFI, a analista política angolana Marzilda Caxito e especialista em relações internacionais, explicou que este encontro “simboliza um ganho da diplomacia angolana”:

A diplomacia angolana tem trabalhado no sentido de melhorar e estreitar as relações com os Estados Unidos. O objectivo é conseguir que os dois chefes [de Estado] abordem questões de interesse comum, questões ligadas aos direitos humanos, à consolidação da democracia. Temos estado a lutar para o nosso desenvolvimento e por vezes a nossa imagem é muito distorcida e portanto os passos dados nessa direcção são para melhorar a imagem do Estado Angolano, de como as pessoas vêm o Estado Angolano.

O encontro enquadra-se na comemoração dos 30 anos de relações diplomáticas entre os dois países, desde 19 de Maio de 1993, quando o Presidente norte-americano Bill Clinton formalizou o estabelecimento de relações diplomáticas com o Governo Angolano.

Angola: terceiro maior parceiro comercial dos EUA na África Subsaariana

Três décadas depois, Angola é o terceiro maior parceiro comercial dos EUA na África Subsaariana devido, sobretudo, à exportação de petróleo.

A analista Marzilda Caxito friza que “os Estados Unidos têm interesses económicos, políticos e até de segurança” em Angola, sendo que o país “tem uma participação activa nas organizações regionais, na construção e na promoção da paz em África e em questões de prevenção e gestão de conflitos”.

Numa altura em que Angola aposta na diversificação da sua economia, os Estados Unidos, um dos maiores investidores no país, surgem como um parceiro ideal. Logo, o que se espera deste encontro, segundo Marzilda Caxito, é um conjunto de resultados que “permitam aumentar o fluxo de negócios entre os dois Estados”.

João Lourenço viaja para os Estados Unidos com um saldo comercial positivo de quase mil milhões de dólares e um investimento de outros mil milhões de dólares no Corredor do Lobito, um dos projectos em que os Estados Unidos tem um grande papel. Este projecto de linhas férreas ligará Angola, República Democrática do Congo e Zâmbia aos mercados internacionais e é a maior infraestrutura de transportes em que os Estados Unidos investem.

Ligando o oceano Atlântico ao oceano Indico através do continente africano, o corredor do Lobito vai consolidar o comércio regional e o crescimento económico de Africa, ainda segundo a analista Marzilda Caxito:

Este corredor reveste-se de uma importância estratégica para o comércio da região central e para terceiros países no continente.

Outro negócio que se destaca neste panorama do relacionamento bilateral: a atribuição da construção e gestão da refinaria do Soyo, no valor de 3,5 mil milhões de dólares, atribuída à Quanten LLC, um consórcio de empresas privadas norte-americanas, em 2021.

Por outro lado, no ano passado, Joe Biden anunciou que as instituições do seu país vão disponibilizar cerca de 15 mil milhões de dólares para novos projectos que, a longo prazo, servirão para melhorar a vida da população do continente africano.

Os Estados Unidos, em Angola, são vistos como um país que tem apoiado bastante o desenvolvimento africano, o que nos leva a optar por uma diplomacia mais activa. Faz parte de um cálculo político, em que se conjugam dois objectivos: preservar os interesses nacionais e reforçar as relações com as grandes potências.

Considerando o nível de riqueza dos recursos naturais em Angola, o Departamento de Estado dos EUA avança, num comunicado, que o país beneficia de “um tremendo potencial agrícola”, podendo “tornar-se uma potência regional no comércio e investimento regionais”.

Salvaguarda dos interesses regionais 

O embaixador dos Estados Unidos em Angola e São Tomé e Príncipe, Tulinabo Mushingi, disse que o interesse dos Estados Unidos em Angola está também virado para questões de segurança, cujo objectivo é proteger as populações contra todo tipo de ameaças. Desde crimes cibernéticos ao tráfico de seres humanos. Inclusive, ameaças às infraestructuras como explica Marzilda Caxito:

Tendo em conta as relações que Estados Unidos têm com Angola, lembrando também Os investimentos na área petrolífera e não só. De modo a manter esses vínculos, os EUA apelam à segurança [regional]. Interessa aos EUA proteger Angola porquê? Pelos interesses que têm. Sabe-se que os EUA sempre quiseram instalar uma base militar em Angola. Angola é um dos estados em Africa que maior estabilidade tem em termos de conflitos.

Para além de Angola ser um “país estável”, e “apelando à paz”, a localização de Angola é também estratégica. O desenvolvimento de boas relações diplomáticas com Angola permite aos Estados Unidos salvaguardar a sua zona de influência na região, “uma vez que ao funcionar como o nosso escudo, impede às outras potências de intervir”, como explica ainda a analista política, concluindo que “num país onde não há paz não se consegue investir”.

A margem do encontro com Joe Biden, o Presidente João Lourenço vai ainda discursar na Assembleia Geral das Nações Unidas na manhã de quinta-feira 30 de Novembro.

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