Falta apenas uma das quatro descargas de água da central de Fukushima previstas até março de 2024, e até ao momento o Governo japonês e a Agência Internacional de Energia Atómica não levantaram preocupações com o processo. Restrições às importações impostas por Pequim têm “maior impacto” no comércio de vieiras e outros mariscos
Tanques em Fukushima
O Japão começou a vocalizar a ideia de libertar água da central nuclear de Fukushima para o oceano em 2021, e o plano foi posto em prática este ano, depois da autorização da Agência Internacional de Energia Atómica (AIEA), que considerou que o mecanismo tinha “impacto insignificante no ambiente”. No entanto, a China não concedeu o mesmo apoio à medida e em agosto suspendeu a importação de produtos aquáticos de origem japonesa para “prevenir o risco de contaminação radioativa”.
A terceira ronda de descargas no oceano de água da central nuclear de Fukushima, no Japão, terminou esta segunda-feira, com o ministério do Ambiente nipónico a concluir que “não há impacto na saúde humana ou no ambiente”, em informações divulgadas pela empresa TEPCO. Foram analisadas amostras de 11 pontos diferentes da costa de Fukushima. Está prevista mais uma descarga até ao final de março de 2024.
Quando esta última descarga começou a ser feita, a AIEA disse em comunicado que a concentração de trítio estava abaixo dos limites operacionais e que a revisão de segurança do processo concluiu que estava a “progredir como planeado e sem preocupações técnicas”.
Descarga de mais de um milhão de toneladas de água
A água usada desde o acidente nuclear para arrefecer os reatores na central passa por um sistema de filtração conhecido por Sistema Avançado de Processamento de Líquidos (ALPS, na sigla inglesa), que retira a maioria da radioatividade antes de ser armazenada. Permanece o trítio, uma forma radioativa de hidrogénio, que a AIEA indica existir em baixa concentração na água da central.
O Japão avançou com a descarga de mais de um milhão de toneladas de água – diluída de modo a que até o trítio esteja em quantidade inferior aos limiares de segurança – no Pacífico. Está previsto que as descargas se prolonguem ao longo de três décadas, com concentração máxima de 1500 becquerel (decaimento radioativo por segundo) por litro. Como disse anteriormente ao Expresso o professor Pedro Ferreira, do Departamento de Física do Instituto Superior de Engenharia de Lisboa, ao Expresso, “a radioatividade de um corpo humano normal de um adulto é da ordem de 3000 decaimentos por segundo para o corpo inteiro”.
Funcionários do Governo japonês frisam o compromisso com a segurança do processo. “A segurança é a prioridade de topo. Se a descarga não cumprir os padrões de segurança, as pessoas no Japão seriam as primeiras a sofrer as consequências. Tais descargas teriam impacto no país e nos japoneses, o que não seria permitido pelo governo”, diz um funcionário. Destaca ainda que há pessoas a regressar a Fukushima e quem viva no local, e que até ao momento a concentração de trítio se situa nos valores planeados, estando as descargas a realizar-se em segurança.
Foi ainda observado que há instalações nucleares noutras zonas do mundo a realizar descargas, segundo os regulamentos de cada país e região, algumas com valor de trítio superior ao presente na água de Fukushima. Um dos exemplos dados foi da central nuclear de Qinshan, na China. Segundo um artigo do jornal britânico “The Guardian”, cientistas observaram que a água libertada por centrais nucleares chinesas tem níveis mais elevados de trítio.
Alegado assédio da China mantém-se? “Não é um problema grave”
Apesar das garantias de Tóquio, as restrições às importações impostas pela China mantêm-se em vigor. Qual o impacto económico da medida? “Em termos de valor monetário, tanto quanto sei não foram feitos cálculos precisos. O maior impacto é nas vieiras/marisco e depois é provavelmente no pepino do mar”, disse um funcionário do Governo japonês. Ressalvou, no entanto, que apesar de a circulação tradicional de vieiras e marisco passar pela China antes de ser enviado para os Estados Unidos, depois da medida tomada pelo país vizinho as exportações diretas para os Estados Unidos estão a crescer.
Quando as descargas começaram, em agosto, o Japão denunciou casos de assédio através de chamadas a negócios no país e a instituições japonesas na China. A par disso, a CNN Internacional relatou uma vaga de assédio online contra japoneses no seguimento da descarga de água de Fukushima no oceano. No entanto, outro funcionário japonês disse que “não é um problema grave de momento”.
A revista “Time” noticiou recentemente que o primeiro-ministro japonês Fumio Kishida e o Presidente chinês Xi Jinping combinaram procurar uma solução dialogada para a disputa sobre a descarga de água de Fukushima. “Vamos ter discussões com base na ciência, ao nível de especialistas”, disse Kishida.
Perante um pedido para confirmar este diálogo e quando irá acontecer, uma porta-voz Mo ministério dos Negócios Estrangeiros chinês também respondeu de forma vaga. Disse que a oposição de Pequim às descargas se mantém e que espera que os dois países recorram a consultas e negociações para resolver a questão. “China e outras partes relevantes tomaram as medidas de precaução necessárias, que são totalmente legítimas e razoáveis”, defendeu Mao Ning.
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