O antigo primeiro-ministro italiano Enrico Letta, relator de Alto Nível sobre o Futuro do Mercado Único, alertou hoje que saem anualmente 300 mil milhões de euros da UE para os Estados Unidos, dinheiro usado para comprar empresas europeias.
“Todos os anos, 300 mil milhões de euros – não estou a brincar – das nossas poupanças, poupanças de cidadãos europeus, estão a voar pelo Atlântico para alimentar o mercado financeiro americano”, disse Enrico Letta na abertura no nono Fórum da Coesão, que decorre hoje e sexta-feira em Bruxelas.
O antigo primeiro-ministro italiano, presidente do instituto Jacques Delors e relator do Relatório de Alto Nível Sobre o Futuro do Mercado Único, que será apresentado na próxima semana, falou à audiência por videoconferência.
“Através do mercado financeiro americano, [os 300 mil ME] alimentam, através de participações privadas, a economia americana e as empresas americanas que, mais fortes, atravessam de volta o Atlântico para comprar empresas europeias, com o nosso dinheiro europeu”, vincou.
Segundo Enrico Letta, este fenómeno acontece porque o mercado financeiro europeu “não está suficientemente integrado”.
“Nós temos 27 mercados financeiros, não um. E por causa desta fraqueza, as nossas poupanças são atraídas pelo grande mercado financeiro no mundo, o dos Estados Unidos”, acrescentou.
Para Enrico Letta, se a integração do mercado único não se completar e “não se criar uma forte, atrativa e integrada União de Investimento”, capaz de se financiar e financiar investimentos, “por toda a Europa as pessoas vão começar a achar que o futuro das necessidades da Europa – transições, alargamento – será pago pelos Fundos de Coesão”, que servem para estimular a economia das regiões europeias menos desenvolvidas.
“Sei muito bem que não é um tema muito ‘sexy’, quando se fala de capital, mercados e finanças não é muito atraente”, reconheceu, mas para Enrico Letta “este ponto é crucial”.
Para o relator sobre o Mercado Único, é necessário parar a “narrativa” sobre o fim dos Fundos de Coesão aquando de um alargamento.
“Não está escrita, não é falada, não a encontramos em nenhuma discussão ou em nenhum documento, mas sabemos muito bem que o sentimento que há pela Europa é que o próximo alargamento será pago pelos atuais beneficiários” dos Fundos de Coesão, apontou.
Segundo o antigo primeiro-ministro italiano, “os Fundos de Coesão são necessários para a União Europeia do futuro, são necessários para os atuais Estados-membros, e são necessários para futuros Estados-membros”.
“É necessário trabalhar para não tornar o alargamento [da UE] impopular”, vincou.
Leia Também: “Política de coesão não é de caridade”, mas deve apoiar desenvolvimento
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