Oceano Atlântico
Um estudo conjunto da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa e da Johannes Gutenberg University Mainz revelou a potencial criação de um anel de fogo no Oceano Atlântico num período próximo a 20 milhões de anos.
Investigadores da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa e da Johannes Gutenberg University Mainz, na Alemanha, realizaram um estudo sobre os oceanos com recurso modelos computacionais, e os resultados não são agradáveis.
O estudo, que pode ser consultado aqui, prevê um futuro intrigante para o Oceano Atlântico: a formação de um sistema de subducção, similar ao “anel de fogo” do Pacífico. Essa transformação, embora distante em termos humanos (cerca de 20 milhões de anos), é significativa na escala geológica e pode marcar o início do declínio do Atlântico.
Os oceanos, colossais em comparação à vida humana, possuem um ciclo de vida finito: nascem, expandem-se e, eventualmente, fecham-se. O oceano Atlântico formou-se com a fragmentação do mega continente Pangeia, há cerca de 180 milhões de anos, e para que inicie o processo de fechamento, é preciso que se formem novas zonas de subducção, zonas em que duas placas tectónicas convergem e uma mergulha sob a outra. No entanto, a formação de tais zonas é complexa, pois exige a fratura e dobramento das placas, que são naturalmente rígidas e resistentes.
Uma solução para esse “paradoxo” reside na migração de zonas de subducção de oceanos em declínio, como o Mar Mediterrâneo, aqui bem perto, para oceanos em pleno desenvolvimento, como o Atlântico. Essa migração, impulsionada por processos geológicos ao longo de milhões de anos, pode ser o prenúncio do futuro “anel de fogo” atlântico.
“Este processo em que uma zona de subducção invade um outro oceano é um processo inerentemente tridimensional, que requer ferramentas avançadas de modelação e supercomputadores que não estavam disponíveis há alguns anos. Podemos agora simular com grande detalhe a formação do Arco de Gibraltar e também como este poderá evoluir num futuro profundo“, explica João Duarte, primeiro autor do estudo, investigador do Instituto Dom Luiz, na Ciências ULisboa.
“Existem outras duas zonas de subducção do outro lado do Atlântico – o Arco das Pequenas Antilhas, nas Caraíbas, e o Arco da Escócia, perto da Antártida. No entanto, estas zonas de subducção invadiram o Atlântico há vários milhões de anos. Estudar Gibraltar é uma oportunidade inestimável porque permite observar o processo nas suas fases iniciais, quando ainda está a acontecer“, acrescenta João Duarte.
Este estudo lança uma nova luz sobre a zona de subducção de Gibraltar: na comunidade científica poucos investigadores consideravam que esta ainda se encontrava ativa, pois a sua atividade abrandou significativamente nos últimos milhões de anos. Esta descoberta tem ainda implicações importantes para a atividade sísmica na região. As zonas de subducção são conhecidas por produzirem os sismos mais fortes do planeta, como por exemplo, o Grande Sismo de Lisboa de 1755.
Foto: Unsplash
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