Os 10 erros que o PS não pode cometer

Estas eleições internas vão ser muito escrutinadas. Estamos com todos os olhos postos em nós. Não será anormal que a comissão que fiscaliza as contas dos partidos se coloque em jantares de campanha, que uma estação de televisão se ponha à porta de uma secção a perguntar aos militantes por que estão ali, se sabem para que são as eleições, quem pagou as quotas

os 10 erros que o ps não pode cometer

Os 10 erros que o PS não pode cometer

O Partido Socialista está em processo de escolha do seu líder. Como em tempos idos, estas contendas deixam sempre marcas, criam, em certos universos, desconfianças que se vão manter. Tentei que houvesse só uma candidatura, mas não foi possível.

Estamos agora perante um desafio único – fazer o caminho sem esquecer o que é essencial.

O PS marcha em cima de gelo fino, há demasiadas variantes que estão a influenciar o debate, a desviar as atenções. Identifico os 10 erros que o PS não pode cometer até março.

  1. Atacar a Justiça como um todo

O processo que nos leva a eleições legislativas antecipadas deve ser tratado como António Costa recomendou nas reuniões da Comissão Política e da Comissão Nacional – não fazer do grave caso em que é parte, o centro, o único ponto, de um combate. Muito menos dar prazos ao Ministério Público que, como se sabe, tem os seus procedimentos próprios e as suas formas de atuar.

E também não é acertado discutir os poderes do Ministério Público numa fase em que tudo nos implica de forma grave. Desde o dia em que Costa confrontou Guterres, sobre o Processo Camarate, que temos uma linha bem clara de como agir.

2. Atacar o Presidente da República

O Presidente da República convocou eleições porque não podia deixar de o fazer. Inventar soluções políticas com base numa maioria que tinha sido escolhida por Costa era muito desavisado.

Acredito que tenha estado na cabeça de quem pensou na possibilidade de um outro Governo o interesse do país. Acredito até, que o Presidente tenha ponderado o futuro de março e dos tempos seguintes. Mas havia o discurso da tomada de posse e a sua família política que tem aqui a sua oportunidade.

Quando se fala em autonomia estratégica do PS não podemos deixar de olhar para as eleições presidenciais, o apoio de figuras importantes ao atual inquilino de Belém. E foi sobre essa ausência de PS nas presidenciais que eu me insurgi no Congresso de 2021.

3. Atacar a Comunicação Social

Nos últimos dias têm circulado nas redes sociais as mais incríveis reações sobre a forma como a Comunicação Social tem tratado o caso Influencer e a forma como persegue alguns dos protagonistas. Temo que esse caminho se avolume e que possa sair do controle.

O PS não deve ser o partido Calimero, deve saber em que mundo se encontra e construir canais e formas de comunicação que permitam conter a espetacularidade dos casos do dia e dos que poderão vir por aí. Deve ser tão claro e transparente nas escolhas dos protagonistas e das suas opções políticas que quase não sobrem arestas.

4. Atacar o adversário interno

José Luis Carneiro é um grande político e tem a escola das campanhas autárquicas. Ele sabe como ganhar famílias inteiras com palavras simples e curtas. Os autarcas, de todos os partidos, fazem um caminho muito simples, entre zeros e uns, entre on e off, entre o bem e o mal.

A estratégia de Carneiro tem tido sucesso em setores específicos do Partido, o outro partido de que eu falava sempre quando identificava erros de ação política do Governo. É natural que se entenda que as palavras de Carneiro são ataques a Pedro Nuno, mas mais penoso seria se quem vai à frente, e é candidato a Primeiro Ministro, se desse na resposta cutânea. É muito relevante para o momento, mas deixa marcas profundas para depois.

5. Atacar a democracia interna

Estas eleições internas vão ser muito escrutinadas. Estamos com todos os olhos postos em nós. Não será anormal que a comissão que fiscaliza as contas dos partidos se coloque em jantares de campanha, que uma estação de televisão se ponha à porta de uma secção a perguntar aos votantes porque estão ali, se sabem para que são as eleições, quem pagou as quotas.

Todos sabem, dentro do Partido, de onde podem vir esses problemas, as candidaturas devem prevenir esses acontecimentos.

Sei que há uma candidatura que já alertou para essa situação, mas não sei se isso pode vir da outra ou de terratenentes de ambas.

6. Atacar o pote

Há muitos exemplos na História Universal em que a distribuição do poder, antes de se ter, foi trágica.

Vejo apoios baseados no interesse pessoal e no futuro imediato. Não sou ingénuo e ando nisto há muitas décadas, sei que é normal fazer um processo eleitoral com base na construção de equipas, na escolha dos melhores tendo em conta os objetivos que se querem atingir. Mas os apoios não podem ser para sobreviver na influência, para se manter um lugar de deputado, para sair dos municípios para o Parlamento.

Reconheço que faz sentido a escolha de autarcas para as listas, porque podem ser membros do Governo se o PS renovar a confiança dos portugueses, mas não se pode permitir a “localização” do Parlamento, localização essa que se tem acentuado nas últimas legislaturas e que diminui a dimensão política do debate político.

7. Atacar a Juventude Socialista

Nos últimos dias assistimos a uma campanha surda contra a JS. A razão, que foi resolvida na Comissão Nacional, era simples – são maioritariamente apoiantes de uma candidatura.

Em 1991 também aconteceu esse ataque por parte dos apoiantes de Jorge Sampaio, erro assumido no dia seguinte às eleições legislativas. Mas a JS nunca negou o apoio e a mobilização a cada secretário-geral.

Impedir o cumprimento dos estatutos, que autorizam os jovens com mais de 18 anos a participar na eleição do líder do partido, seria um erro gravíssimo.

Estou certo que os apoiantes de uma candidatura que assim procederam saberão recolher-se.

8. Atacar a diversidade

No dia da Comissão Nacional, Daniel Adrião apresentou a sua candidatura à liderança do partido. Não é de hoje o caminho que Adrião tem feito, um trilho que é muito parecido a correntes minoritárias que existem em partidos socialistas e sociais democratas por essa Europa fora.

O reaparecimento desta candidatura pode retirar alguns votos a uma das outras, como é natural, mas não é motivo para diabolizações.

Nesta fase estão os militantes a escolher e não devemos impedir que o pluralismo se evidencie. Há, contudo, um problema que importa ter em conta – os limites do debate e a forma de o fazer para fora.

9. Atacar a militância

O Partido Socialista é o partido mais democrático de todos os que existem no Parlamento. Mas é também o partido mais livre no espaço interno.

Nos últimos dias tenho ouvido coisas que não lembram ao diabo, acusações a camaradas, menorização do seu pensamento político e da sua leitura do país.

Está claro que a análise depende de muitos fatores, o principal é o ponto em que estamos na história, o território onde nos encontramos, os parceiros de combate de anos. Mas nada destes elementos pode justificar a desconsideração, nada pode tratar o outro socialista com desprimor. E esse ataque também se vê na velocidade da ação política. Não se ganha nada em fazer tudo de afogadilho, não se vence, mesmo vencendo, se não se parar para pensar.

10. Atacar a inteligência dos portugueses

Como já disse, estas eleições internas não são só para se escolher o líder do partido, são para se escolher o líder de um governo socialista. Por isso, o PS vai sofrer a influência dos outros partidos que também vão participar em sondagens (escolhendo o mais dócil para os seus interesses) e vão criar opiniões complicadas; vai sofrer a implicação dos comentadores, que vão achar isto ou aquilo sobre os rivais, escolher o que melhor for para o seu granjeio; vai sofrer a implicação dos interesses, que não se negam a querer escolher dentro do partido e, depois, fora do partido.

Mas há uma coisa que não podemos esquecer – os portugueses.

Para isso interessa não ser ardiloso no argumentário, dissimulado na ação, sectário nas escolhas.

Estão aqui as regras que vão estar presentes. Quem nelas ponderar e quem as melhor souber cumprir vai ganhar. Hoje ou amanhã.

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