RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) – Mocidade, Mangueira e Viradouro foram os destaques da segunda noite de desfiles do Carnaval do Rio de Janeiro, que teve como marca a animação do público da Sapucaí, cantando o samba-enredo das agremiações.
A Mocidade Independente de Padre Miguel foi a primeira a entrar na avenida trazendo um desfile em homenagem ao caju. O samba de refrão chiclete que já vinha fazendo sucesso foi cantado à capela pelo público nas paradas da bateria.
Com alegorias e alas cheias de brasilidade, o destaque foi a comissão de frente, que contou com componente na arquibancada. Aproveitando o controle da iluminação, as luzes eram desligadas e um spot era direcionado ao público, iluminando uma Carmen Miranda. Em vez de segurar bananas, ela tinha cajus como nova fruta símbolo do Brasil.
Um dos compositores do samba-enredo da escola, o humorista Marcelo Adnet participou do desfile fantasiado do pintor francês Jean-Baptiste Debret. Ao lado dele, a atriz Regina Casé representou Tarsila do Amaral.
Segunda escola desfilar, a Portela veio com um enredo emocionante inspirado no livro “Um Defeito de Cor”, de Ana Maria Gonçalves baseada na carta de Luiza Mahin, mãe do líder abolicionista e advogado Luiz Gama e celebrou as mães pretas, mas teve problemas com as alegorias.
O abre-alas quebrou ainda na concentração e atrapalhou o início do desfile. Algumas esculturas ficaram danificadas. Outros carros também apresentaram defeitos e foi preciso auxílio dos integrantes para retirar partes quebradas.
Os atores Lázaro Ramos, Antônio Pitanga e o ministro Silvio Almeida (Direitos Humanos) desfilaram representando Luiza Gama.
A última alegoria trouxe mães de jovens vítimas de violência policial e a velha guarda da Portela. À frente do carro, Marinete Silva, mãe da vereadora Marielle Franco, desfilou sentada em um barco.
A Vila Isabel levou a reedição do desfile de 1993, “Gbalá – Viagem ao templo da criação”, para avenida com assinatura do carnavalesco Paulo Barros.
O enredo destacou o mal que o ser humano pode fazer ao planeta Terra e apontou as crianças como salvação. Os pequenos estiveram presentes em diversas alas e na comissão de frente.
Com a possibilidade de controlar a iluminação da Sapucaí, Barros abusou dos efeitos de luzes e neons. O primeiro casal de mestre-sala e porta-bandeira tinha o traje coberto por luzes e refletores de laser. Já a cabeça da fantasia dos integrantes da bateria era um coração que pulsava.
Autor do samba do desfile de 1993 e presidente de honra da escola, o cantor Martinho da Vila veio no último carro representando um sacerdote.
A Mangueira voltou a homenagear seus integrantes famosos com um enredo dedicado à cantora Alcione. O desfile começou com as memórias afetivas da cantora. A comissão de frente representou a infância no Maranhão. Já as baianas mostraram a relação da cantora com a mãe.
Músicas famosas de Alcione foram inspiração para carros e alas, como a das passistas inspirada na canção “A Loba”. O quarto carro trouxe os amigos da Marrom, como Taís Araújo. Já a cantora Maria Bethânia veio em um tripé.
Alcione, que completou 50 anos de carreira em 2022, veio no último carro com uma coroa, rodeada de crianças, numa alegoria representando a Mangueira do amanhã.
Na dispersão, duas pessoas ficaram feridas em acidente com um carro alegórico da escola.
A Paraíso do Tuiuti homenageou João Cândido Felisberto, o “almirante negro” líder da Revolta da Chibata. Para isso, tomou como inspiração a música “O mestre-sala dos mares”, de João Bosco e Aldir Blanc e famosa na voz de Elis Regina.
O almirante foi representado pelo ex-entregador Max Angelo dos Santos agredido por uma mulher branca na zona sul do Rio de Janeiro em abril de 2023 em uma das alegorias. A rainha da bateria, Mayara Lima, veio de vermelho reproduzindo o sangue dos marinheiros.
O último carro era um navio em que cada uma das velas trazia estampado notícias recentes de casos de racismo. João Bosco e as filhas de Aldir Blanc participaram do desfile.
Atual vice-campeã do Carnaval do Rio, a Viradouro fechou a noite com desfile criativo que abusou das cores para contar o enredo “Arroboboi, Dangbé”, uma homenagem à cobra sagrada de Benin, que, de acordo com o mito, se manifestou em batalhas na costa ocidental da África, no século 18.
A comissão de frente levantou a arquibancada com uma cobra que brilhava no escuro e rastejava entre os componentes no chão da Sapucaí.
Como o desfile começou ainda de madrugada, alas e carros usaram material que se destacava com a baixa iluminação. Com o dia já claro, a escola de Niterói formou um arco-íris com as fantasias nas últimas alas.
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