Benfica num estádio de má memória para os portugueses: «O Vélodrome é um inferno»
Escrevia Nélson Rodrigues, ilustre cronista brasileiro, na década de 50 que «o futebol não se traduz em termos técnicos e táticos, mas puramente emocionais».
Ainda que, até pela evolução que a modalidade tem vindo a ter, a afirmação do antigo jornalista possa ser debatível (ressalvamos, no entanto, que temos pouca legitimidade para questionar um dos maiores génios da escrita desportiva), a verdade é que a componente emotiva assume uma importância muito grande na modalidade que tanto apreciamos.
A distância entre o sonho e o pesadelo no mundo do futebol é curta e são vários os exemplos que dão força a esta mesma premissa. Olhando para a história do futebol português- no caso da Seleção em concreto-, a derrota na final do Euro 2004 é o exemplo mais evidente, mas há outros que facilmente surgem na memória dos adeptos. Um deles é, com toda a certeza, o desaire (3-2) frente à França nas meias-finais do Euro 84.
Pode parecer estranho estarmos a falar deste jogo 40 anos depois do mesmo ter acontecido, mas há uma explicação lógica, caro leitor. O palco do jogo dessa fatídica noite de junho é o mesmo no qual o Benfica irá enfentar o Marseille nesta quinta-feira: o Stade Vélodrome. O recinto é unanimente reconhecido como um dos mais emblemáticos em solo gaulês, pelo que o zerozero quis perceber o que o torna tão especial.
Com isto em mente, conversámos com Álvaro Magalhães, antigo internacional português que marcou presença no França-Portugal de há quatro décadas e figura de relevo da história do Benfica.
«Estádio cheio cria ambiente difícil»
A pergunta de partida foi simples: que memórias vêm à cabeça de Álvaro Magalhães quando fazemos referência ao França-Portugal de 1984?
«Foi um jogo no qual Portugal demonstrou muita qualidade, isto num estГЎdio que Г© um inferno. Aquilo Г© um estГЎdio no qual os adeptos se transformam e sГЈo mesmo fanГЎticos. No entanto, Г© um ambiente ao qual eu estava habituado no EstГЎdio da Luz. SГЈo dois estГЎdios que, quando estГЈo cheios, se tornam muito difГceis para os adversГЎrios. Г‰ complicado jogar no VГ©lodrome, ainda para mais numa partida contra a seleção francesa. Г‰ claro que os jogadores gostam de ver o estГЎdio cheio, mas Г© um inferno, Г© um recintoВ que mete mesmo muito respeitoВ», comeГ§ou por nos explicar o agora treinador.
Apesar de o jogo já ter sido há algum tempo, o ambiente vivido continua bem presente para o antigo lateral-esquerdo: «É um estádio muito bonito, as bancadas por trás das balizas, onde os adeptos estão mais concentrados, são fantásticas. Qualquer jogador se sente bem em jogar em estádios deste género, ainda para mais quando estão cheios. É mesmo impressionante, a zona das claques faz-me lembrar o terceiro anel do antigo Estádio da Luz. Os adeptos contagiam os jogadores, quem não aguentar a pressão não pode jogar numa equipa daquelas.»
Perante tamanhos elogios, levántamos a possibilidade de o apoio dos adeptos ter tido algum impacto na reviravolta que Portugal permitiu no jogo de 1984. No entanto, na visão de Álvaro Magalhães, os dois aspetos não estão relacionados. «Foi uma grande felicidade para os franceses e uma infelicidade tremenda para nós. Encarámos o jogo com muita ambição e nunca tentámos apenas defender o resultado. Sabíamos que estávamos com muita confiança, mesmo tendo em conta que defrontávamos um adversário fortíssimo. Alias, foi a confiança em excesso que nos levou a perder esse jogo. Se chegássemos à final, penso que seríamos campeões», asseverou.
Confiança na passagem
Sendo Álvaro Magalhães uma figura com 263 jogos oficiais pelo Benfica, clube pelo qual venceu quatro campeonatos, quatro Taças de Portugal e duas Supertaças, não podíamos deixar de pedir um palpite para o que falta jogar da eliminatória dos oitavos-de-final da Liga Europa ao antigo lateral-esquerdo.
«O resultado da primeira mГЈo nГЈo Г© negativo, mas o golo sofrido naquele momento deixou os benfiquistas apreensivos. Ainda assim, estou convicto de que o Benfica, se apresentar a qualidade que tem a nГvel de jogo, conseguirГЎ passar. O plantel tem qualidade para enfrentar este Marseille, que, ainda assim, Г© muito mais forte em casa do que foraВ», considerou.
De resto, o antigo internacional luso, agora com 63 anos, enumerou dois aspetos que, na sua visão, podem ajudar a fazer com que a eliminatória penda para o lado encarnado: «O Roger Schmidt fez bem em mudar algumas peças no último jogo. Jogadores que não estavam a jogar tanto ganharam alguma confiança e o plantel vai estar mais fresco e preparado para enfrentar o desgaste, que vai ser imenso. Para além disso, o Benfica vai contar com o apoio de vário emigrantes daquela zona, que aproveitam sempre para ver o clube.»
40 anos depois, conseguirá o Benfica um resultado melhor do que a Seleção no Stade Vélodrome?
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