Em meio à crise energética, o presidente equatoriano, Daniel Noboa, decretou dois dias de “suspensão da jornada de trabalho” e dererminou a investigação de supostos atos de corrupção e negligência
O Equador ordenou, nesta quarta-feira (17), a suspensão de dois dias das atividades públicas e privadas devido à crise energética causada por um déficit histórico nos reservatórios que abastecem as usinas hidrelétricas, resultando em apagões de até seis horas e possíveis perdas milionárias.
O presidente Daniel Noboa decretou a “suspensão da jornada de trabalho” na quinta-feira e sexta-feira, informou a Presidência em comunicado, atribuindo sua decisão não apenas a “circunstâncias ambientais”, mas também a “atos inauditos de corrupção e negligência”.
Os municípios do porto de Guayaquil e de Cuenca, nas montanhas, as principais cidades do país depois de Quito, anunciaram, no entanto, que seus serviços de transporte público e o aeroporto continuarão funcionando normalmente.
O prefeito de Guayaquil, Aquiles Álvarez, afirmou em comunicado que esse polo comercial do país gera cerca de US$ 70 milhões (R$ 367,2 milhões) por dia. “Não permitiremos que isso prejudique nossa economia”, assegurou.
Noboa declarou na terça-feira emergência no setor elétrico e pediu a renúncia da então ministra de Energia, Andrea Arrobo.
Após racionamentos imprevistos no último domingo, Noboa designou na terça-feira o ministro de Transportes e Obras Públicas, Roberto Luque, como responsável pelo setor de Energia, e ordenou uma investigação devido a suspeitas de corrupção que afetam a produção de eletricidade.
As usinas elétricas realizarão manutenção de suas plantas na quinta-feira e sexta-feira, o que implicará racionamentos a serem anunciados oportunamente, acrescentou a Presidência.
– Protesto estudantil –
À crise hídrica soma-se o fato de a Colômbia ter deixado de exportar energia para o Equador como medida para lidar com a grave seca associada ao fenômeno El Niño, que deixou os reservatórios colombianos com menos de 30% de sua capacidade.
Um grupo de estudantes da estatal Universidade Central de Quito protestou contra o governo, os apagões e o referendo de Noboa para enfrentar o crime organizado, convocado para o próximo domingo.
Os universitários se reuniram em frente à Universidade para protestar contra o Executivo e exibir cartazes com frases como “Te cortam a luz, corte o apoio deles”.
O governo equatoriano informou nesta quarta-feira que os reservatórios de Mazar (o mais importante) e Paute, ambos no sul dos Andes, estão em “condições críticas”, com níveis de armazenamento de 0% e 4%, respectivamente.
Da mesma forma, o volume de água na maior usina hidrelétrica, Coca Codo Sinclair (norte da Amazônia), que atende a 30% da demanda nacional e gera 1.500 MW de energia, sofre um déficit de 40% em comparação com a média histórica.
As horas de trabalho serão recuperadas no setor público com uma hora adicional durante os dias úteis seguintes, enquanto no setor privado isso dependerá das empresas.
O Equador, com 17,7 milhões de habitantes, tem uma população economicamente ativa de 8,3 milhões de pessoas, de acordo com os números oficiais.
– Denúncia contra ‘sabotadores’ –
O governo disse que a investigação ordenada por Noboa, que assumiu o cargo em novembro para governar por 18 meses, encontrou “indícios de que funcionários de alto nível”, incluindo Arrobo, “ocultaram intencionalmente informações cruciais para o funcionamento do sistema nacional de energia”.
O Executivo sustentou que “os avisos e alertas ao Comitê de Crise Energética foram suprimidos e desfeitos, de modo que essa grave situação não fosse conhecida para a tomada de decisões oportunas”.
Ele também apresentou uma queixa ao Ministério Público contra 22 “sabotadores que buscavam prejudicar todos os equatorianos” por paralisar o serviço público.
A crise energética ocorreu na véspera da consulta popular e do referendo de domingo, promovidos por Noboa e cujos eixos principais são a luta contra o tráfico de drogas. Cerca de 13,6 milhões de eleitores foram convocados para decidir, por exemplo, se concordam com a extradição de equatorianos ligados ao crime organizado.
“Eles tentaram nos ferrar com sabotagem no setor elétrico, tentaram nos ferrar com uma campanha suja (…) porque estão nervosos com a possibilidade de vitória do Sim”, disse Noboa nesta quarta-feira em um evento no resort de praia de Atacames, no noroeste do país.
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