Reparações: Portugal há muito que o faz, sem alarido
Por mais que alguns tentem estragar ou perturbar as relações entre Portugal e as suas ex colónias, esta é uma relação de sangue, de irmãos, de um passado em comum que não devemos esquecer e com um futuro em conjunto que tudo devemos fazer para valorizar
Reparações: Portugal há muito que o faz, sem alarido
Quando se trabalham, os laços históricos são difíceis de quebrar. Ao contrário de outros países, ou antigas potências colonizadoras, Portugal restabeleceu muito cedo as relações com as “suas ex colónias”, respeitou sempre a sua autonomia, a sua independência e procurou ajudar, sempre que solicitado para isso, a solidificar as instituições locais, os seus serviços públicos, a sua economia e tudo quanto foi possível. A expressão máxima disso é a Ajuda Pública ao Desenvolvimento que diariamente se operacionaliza através da cooperação bilateral dos diferentes Ministérios e cujos principais países beneficiários são precisamente os países africanos de expressão oficial portuguesa (PALOP). Só em 2022 foram quase 497 milhões de euros, em 2021 foram 388 milhões de euros e em 2020 foram 360 milhões de euros. Além destes montantes somam-se ainda os valores da ajuda do sector privado, entre empresas, ONGDś e outras instituições como a União Europeia, Fundos internacionais dos quais Portugal também faz parte e que ajudam estes países a melhorarem a qualidade de vida das suas populações.
Para quem tiver curiosidade sugiro a consulta do site do Instituto Camões onde poderão encontrar informação muito detalhada sobre este tema e perceber melhor a dimensão desta política de cooperação.
Toda esta cooperação para o desenvolvimento tem sido promovida pelos sucessivos governos de Portugal porque tiveram essa consciência e responsabilidade de ajudar os países que foram colonizados pelos nossos antepassados. Não é por acaso que os principais beneficiários desta ajuda são estes e não outros situados até mais perto das nossas fronteiras. Portugal tem consciência da sua história e também deve ter consciência que o povo destes países também tem uma simpatia especial pelos portugueses e pelo nosso país. É por esta razão que em Moçambique, Angola etc se puxa por Portugal nos jogos da nossa selecção e nós puxamos por eles quando jogam contra outras nações africanas como há dias lembra o grande Olivier Bonamici.
Por mais que alguns tentem estragar ou perturbar as relações entre Portugal e as suas ex colónias, esta é uma relação de sangue, de irmãos, de um passado em comum que não devemos esquecer e com um futuro em conjunto que tudo devemos fazer para valorizar. Se colonização teve muitos pecados e o processo de descolonização foi um desastre, o futuro pode ser bem melhor.
A reparação, a ser feita, é uma reparação de uma relação bilateral, que deve ser vista situação a situação pois cada relação tem a sua história, o seu contexto e as suas sensibilidades não são transmissíveis. Fazer esta discussão de forma pública, ou torná-la numa discussão pública e conceptual, não abona a favor da reparação da relação que é a reparação que tem sentido fazer, se houver lugar a ser feita. Feito deste modo só cria constrangimentos condicionados por uma opinião pública que não nasce desse contexto particular de uma relação entre dois Estados, nem contribui para a fluidez dessa relação.
A este propósito importa destacar que no caso português não haverá assim tantas obras de arte “roubadas” dos territórios ultramarinos como ocorreu por exemplo com as invasões francesas por cá. Estudos recentes das próprias autoridades portuguesas terão revelado que os “objectos” trazidos das ex -colónias e que se encontram identificados não têm nem grande valor artístico nem histórico. Existem algumas peças de arte que foram compradas pelos seus proprietários e que não estão à guarda do Estado. Ou melhor, existem algumas coisas que podiam ser devolvidas mas não na proporção que a discussão faz crer. Dizem-me que o maior espólio identificado e localizado pelo Estado está relacionado com o estudo do corpo humano, para fins científicos e que se prende com restos mortais, tecidos ossos etc que noutros tempos foram trazidos de áfrica e que foram fundamentais para o estudo da medicina, de fármacos etc para dar resposta às necessidades destes países. Material esse que nem pode ser transportado, não existe interesse desses países, nem condições científicas para o acolher
Espero, e desconfio, que por mais que alguns tentem não vão conseguir estragar a boa relação que há entre Portugal e estes países, entre os portugueses e os guineenses, entre os portugueses e os moçambicanos, entre os portugueses e os são tomenses, entre os portugueses e os brasileiros, entre os portugueses e os angolanos, entre os portugueses e os cabo verdianos.