“Os treinos do Artur Jorge no FC Porto eram mais competitivos do que os do Cruijff no Barcelona”
O brasileiro Aloísio chegou ao FC Porto em 1990/91 pela mão de Artur Jorge, e recorda o treinador português como alguém introvertido, que falava pouco, mas que sabia o que queria e comunicava bem. Diz que o mundo do futebol perdeu um ícone e recorda como Branco, lateral esquerdo campeão do Mundial de 1994 com o Brasil, era capaz de o fazer sorrir
“Os treinos do Artur Jorge no FC Porto eram mais competitivos do que os do Cruijff no Barcelona”
“Antes de mais quero dizer que nunca estamos preparados para a perda de alguém e é uma notícia bem triste perder um homem como o Artur Jorge. Era um grande homem. Quero deixar os meus sentimentos para toda a família. O mundo do futebol perdeu um grande ícone.
O Artur Jorge foi o meu primeiro treinador em Portugal. A minha contratação foi devido a ele, que estava a fazer uma outra equipa, a contratar alguns jogadores para o FC Porto. Foram momentos muito importantes na minha chegada a Portugal, foi muito importante na minha adaptação, era um treinador que já tinha uma grande experiência, tinha sido campeão na Europa com o FC Porto pela sua forma de trabalhar. Era uma pessoa super inteligente.
Eu vinha de trabalhar dois anos com o Cruijff e encontrei o Artur Jorge no seu auge de carreira. O Cruijff era mais flexível em algumas situações, o Artur Jorge era um pouco mais fechado, não comunicava muito, falava o essencial. Os nossos treinos no FC Porto eram mais competitivos. Os treinos do Cruijff, talvez devido à mentalidade holandesa, eram um pouco mais relaxados. Tanto que as equipas que o Artur Jorge treinou tiveram sucesso por isso, aliava a técnica com a competitividade. Os nossos treinos muitas vezes pareciam mais um jogo, do que treino. Com certeza que agregou muito os jogadores que trabalhavam com ele porque encarávamos os treinos como se fossem jogos e isso facilitava bastante na competição.
Era super inteligente na forma de ver o futebol e naquilo que queria da equipa. Muitas vezes chamava os atletas à parte, dizia o que queria e também ajudava com a sua experiência. Logo que eu cheguei ao FC Porto, fizemos um torneio fora e falamos da forma de jogar e ele fez algumas perguntas também do futebol espanhol, do Cruijff e do próprio Barcelona, como jogava, e foi uma conversa boa. Ele dialogava à sua maneira, de uma forma mais fechada, mas era um grande líder e um ótimo treinador, comunicava bem.
Apesar de ser muito introvertido e de poucas palavras, ao mesmo tempo gostava de uma brincadeira, quando os jogadores estavam em convívio, num momento mais relaxado. Ele gostava muito do Branco, que era muito engraçado, muito brincalhão e conseguia fazer com que muitas vezes o Artur Jorge esboçasse um sorriso, às vezes uma gargalhada. Tinha esse lado também.
Marcou uma época e com certeza o seu nome vai ficar marcado para sempre. Foi dos primeiro treinadores portugueses a ter sucesso lá fora e abriu portas para que outros treinadores portugueses tivessem acesso depois a esses países.”