Principais cientistas climáticos preveem um aquecimento global de 2,5°C este século

Uma investigação do jornal The Guardian conclui que a maioria dos principais cientistas climáticos do mundo prevê que as temperaturas globais subam pelo menos 2,5°C este século, ultrapassando as metas acordadas internacionalmente.

O jornal The Guardian entrevistou centenas de cientistas que integram o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) e a maioria (80%) disse prever que, até ao final do século, o planeta aqueça pelo menos 2,5°C.

Quase metade dos entrevistados prevê um aquecimento de pelo menos 3°C e apenas 6% acreditam que o Acordo de Paris será cumprido e o aquecimento será limitado a 1,5°C.

Todos alertam para as consequências catastróficas deste aumento da temperatura, com muitos especialistas a preverem um futuro “semi-distópico”, com fomes, conflitos e migrações em massa, impulsionados por ondas de calor, incêndios florestais, inundações e tempestades com uma intensidade e frequência muito superiores às que ocorrem atualmente.

“Penso que estamos a caminhar para uma grande rutura da sociedade nos próximos cinco anos”, disse Gretta Pecl, da Universidade da Tasmânia, ao Guardian.  “[As autoridades] ficarão sobrecarregadas com evento extremo após evento extremo, a produção de alimentos será interrompida. Eu não poderia sentir maior desespero em relação ao futuro”, alertou. “Este é apenas o começo: apertem os cintos”

Apesar da conjetura catastrófica, a investigação do Guardian mostra que poucos especialistas ambientais esperam que os Governos tomem as medidas necessárias para acautelar o aquecimento global.

A falta de vontade política foi apontada por quase três quartos dos inquiridos como a principal razão pela qual o mundo não está a conseguir enfrentar a crise climática, enquanto 60% dos cientistas também culparam interesses empresariais, como a indústria dos combustíveis fósseis.

Muitos também apontaram a desigualdade e o fracasso dos países desenvolvidos em ajudar os países mais pobres, que sofrem mais com os impactos climáticos.

“Se o mundo, inacreditavelmente rico como é, ficar parado e fizer pouco para resolver a situação dos pobres, todos nós acabaremos por perder”, observou Dipak Dasgupta, do Instituto de Energia e Recursos de Nova Deli, na Índia.

Os especialistas alertam que os esforços para proteger a população dos graves desastres climáticos que se avizinham são agora críticos, explicando que cada fração de grau diminuída reduz o sofrimento humano.

“Estou extremamente preocupada com os custos em vidas humanas”, admitiu Letícia Cotrim da Cunha, da Universidade do Estado do Rio de Janeiro.

A crise climática está já a causar danos profundos, numa altura em que a temperatura média do planeta está 1,61°C acima da média registada no período pré-industrial. Nos últimos 11 meses, todos os recordes de temperatura mensais foram ultrapassados e abril de 2024 foi considerado o mais quente desde que há registo.

“Este é apenas o começo: apertem os cintos”, alertou Jesse Keenan, da Universidade de Tulane, nos EUA.