Pergaminho que conta as últimas horas de Platão encontrado nas cinzas do Vesúvio
Os investigadores conseguiram decifrar algumas passagens, que revelam o local em que o filósofo grego foi enterrado e descrevem eventos do seu último dia de vida
Pompeia
Na sua última noite, Platão terá ouvido a música proveniente de uma flauta de uma escrava trácia, e, apesar de lutar contra a febre que o consumia e de estar à beira da morte, ainda criticou a artista, apontando-lhe falta de ritmo. Foi o que revelaram passagens de um rolo de papiro ue ficou soterrado sob camadas de cinzas vulcânicas após a erupção do Monte Vesúvio em 79 d.C., revela o jornal “The Guardian”.
O pergaminho agora encontrado levanta o véu sobre as horas finais do filósofo grego Platão, uma figura-chave na história da filosofia ocidental. O discípulo de Sócrates, que era também mentor de Aristóteles, morreu em Atenas por volta de 348 a.C., e terá sido sepultado, de acordo com aquele documento, no jardim da Academia de Atenas, a primeira universidade do mundo, que o filósofo fundou, adjacente ao Mouseion.
O pergaminho foi preservado numa luxuosa vila – conhecida como a Vila dos Papiros – em Herculano (cidade antiga, localizada na comuna moderna de Ercolano, na Campânia), e só foi encontrado em 1750. Os investigadores acreditam que o documento pertenceu ao sogro de Júlio César.
Domenico Camardo, arqueólogo do projeto de conservação de Herculano, comparou o impacto da erupção de 79 d.C. na antiga cidade perto de Pompeia ao lançamento da bomba atómica na cidade japonesa de Hiroshima, durante a II Guerra Mundial. A onda de calor produzida pelo Vesúvio terá estado entre os 400ºC e 500ºC. Ao longo dos anos, os investigadores tentaram decifrar os pergaminhos encontrados na Vila dos Papiros.
Graziano Ranocchia, da Universidade de Pisa, liderou a equipa responsável pela deteção do documento que se refere às últimas horas da vida de Platão. Diz tratar-se de um “resultado extraordinário que enriquece a nossa compreensão da História antiga”. Foram decifradas novas seções de textos, antes impossíveis de ler, “graças às mais avançadas técnicas de diagnóstico por imagem”, explicou o professor.
O texto adianta um novo detalhe da História: Platão terá sido vendido como escravo na ilha de Egina (Grécia), em 404 a.C., quando os espartanos conquistaram a ilha, ou então em 399 a.C., logo após a morte de Sócrates. “Até agora, acreditava-se que Platão tinha sido vendido como escravo em 387 a.C., durante a sua estadia na Sicília, na corte de Dionísio I de Siracusa”, disse Ranocchia. “Pela primeira vez, fomos capazes de ler sequências de letras escondidas nos papiros que foram envolvidas em múltiplas camadas, coladas umas às outras ao longo dos séculos.” Trata-se de um avanço “significativo” em termos de recolha de grandes quantidades de informações, garante o investigador. Mas o trabalho ainda está numa fase inicial, e poderá demorar anos até que descobertas mais impactantes venham a ser conhecidas.