O currículo é concebido como uma lista de disciplinas obrigatórias e, no caso dos cursos científico-humanísticos, com um excesso de dependência do acesso ao Ensino Superior. Num novo modelo, os alunos devem ter a oportunidade de personalizar o seu percurso educativo, escolhendo disciplinas que estejam alinhadas com os seus interesses e aptidões e métodos também eles diversificados
Rui Oliveira, presidente do Conselho Nacional de Juventude
É na educação que podemos transformar para o espírito crítico, para a criatividade e para a autonomia, mas também para a paz, para o ambiente e para a cooperação. E, para isso, é obrigatório abrir de forma séria este debate, sem que se olhe apenas a remendos no atual plano, mas sim, criando novos modelos, acompanhados de uma implementação estável e com o compromisso necessário para que possam dar frutos ao longo de 5, 10 ou 15 anos.
Num mundo em cada vez mais rápida transformação, com a entrada de novas formas de aceder ao conhecimento, de forma menos ou mais processada, desde livros, motores de pesquisa na internet ou inteligência artificial, é certo que o mundo se transformou e a educação desempenha um papel crucial na preparação das gerações futuras para os desafios que enfrentarão.
Em Portugal, a discussão sobre a reforma do sistema educacional não tem ganho o relevo que deveria, porque muitas das vezes há condições prementes que ainda não estão garantidas, seja com os trabalhadores do sector ou com as condições dos espaços. Ainda assim acredito ser essencial aumentar o debate e a decisão sobre os modelos vindouros. O que pretendo é deixar pistas por onde, pelo contacto com os milhares de jovens com que o Conselho Nacional de Juventude interage, entendemos que é importante iniciar o pensamento e a estratégia de um novo sistema. É certo que nem tudo está mal, há fases do sistema de ensino que, por muito que nos seja estranho, desempenham um papel importante na criação de bases para o desenvolvimento integral, como o desenvolvimento da motricidade fina ou grossa nos primeiros graus de ensino, mas certo é que existem muitos outros onde precisamos de uma reforma.
Uma das questões fundamentais é a necessidade de repensar o modelo de ensino sob uma ótica mais inclusiva, permitindo que cada aluno desenvolva todo o seu potencial, independentemente das suas origens ou circunstâncias. São questões como o aumento dos alunos de origem estrangeira e a necessidade de lecionação de português de língua não materna, mas também é imperativo reconhecer a importância de criar um ambiente escolar que seja verdadeiramente acolhedor e que promova a diversidade e o acesso a oportunidades diferenciadas, como o caso da Escola da Ponte em Santo Tirso.
Uma das áreas em que esta mudança se faz sentir de forma mais premente é na forma como os jovens constroem o seu currículo escolar. Tradicionalmente, o currículo é concebido como uma lista de disciplinas obrigatórias e, atualmente, no caso dos cursos científico-humanísticos, com um excesso de dependência do acesso ao Ensino Superior. Num novo modelo, os alunos devem ter a oportunidade de personalizar o seu percurso educativo, escolhendo disciplinas que estejam alinhadas com os seus interesses e aptidões e métodos também eles diversificados.
Além disso, é fundamental, alterar a disposição da sala de aula, que atualmente é potenciadora de um comportamento unilateral e passivo por parte dos alunos, um modelo que promove menos estímulo para o pensamento crítico e a partilha. É também de salientar as inumeráveis horas passadas em sala de aula.
Por sua vez, é necessário valorizar as atividades extracurriculares com experiências que proporcionam oportunidades de desenvolvimento pessoal e de competências que não podem ser adquiridas apenas através do ensino e da educação formal, tais como a literacia financeira, cultural ou política, pois, será bem diferente explicar o que são eleições a ter a experiência de passar ou preparar umas. Além do mais, para que nos serve termos escolas cada vez mais diversas culturalmente se depois não potenciamos a partilha de histórias, vivências e realidades que promovem a tolerância e a cooperação?
E não, não tem de acontecer na sala de aula, mas sim, deve acontecer na escola, por onde todos temos de passar e aqui reforço o papel da sociedade, e do estado, no desenvolvimento educativo dos jovens. As escolas não podem ser vistas como entidades isoladas, mas sim como parte integrante da comunidade. Neste sentido, é fundamental promover a participação ativa dos pais, das organizações ou das empresas no enriquecimento do ambiente escolar e na promoção de atividades extracurriculares enriquecedoras.
Outro ponto crucial a considerar é a necessidade de adaptar o ritmo de crescimento dos alunos. Cada indivíduo tem o seu próprio ritmo de aprendizagem e é essencial que o sistema educativo seja flexível o suficiente para dar resposta a esta diversidade. Isso implica, por exemplo, um acompanhamento com atenção à pessoa e a implementação de métodos de ensino diferenciados e, desde sempre, a consciência do tradicional chavão do “aprender ao longo da vida”.
Não menos relevante, a necessidade de repensar os métodos de avaliação dos alunos. Em vez de se basearem exclusivamente em testes padronizados, as avaliações devem ser mais abrangentes e diversificadas, permitindo aos alunos demonstrar o seu conhecimento e competências de diferentes formas. Já pensaram como o João Almeida não seria excecional numa avaliação de natação, ou um Diogo Ribeiro no ciclismo?
É crucial que as diversas forças partidárias assumam um compromisso sério com a reforma do sistema educativo, acompanhada das condições dos trabalhadores, em número, na remuneração, na formação e reforçando o rejuvenescimento dos mesmos. Não menos relevante é o assegurar dos espaços e materiais, como o aquecimento ou a internet, para a sua implementação. Este é um desafio que transcende as divisões partidárias e requer uma abordagem colaborativa e concertada. A educação é o pilar do desenvolvimento de qualquer nação e, como tal, deve ser uma prioridade para todos os setores da sociedade.
Ao longo das últimas semanas, Rui Oliveira escreve sobre os temas que o Conselho Nacional da Juventude, enquanto órgão representante dos jovens, identifica como prioritários no pós-eleições. Depois dos Salários e Oportunidades, Habitação e Coesão Territorial, segue-se Educação (agora publicado) e a Democracia.
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