O Bayern Munique voltou a sentir-se grande nas pegadas de tédio do Real Madrid
Os espanhóis vão decidir em casa a passagem à final da Liga dos Campeões, mas voltaram a demonstrar uma atitude subserviente para com o adversário. Na primeira mão da meia-final, o Bayern Munique começou a perder com um golo de Vinícius Jr. Os bávaros fizeram a cambalhota em quatro minutos, só que o brasileiro acabaria por bisar e deixar tudo na estaca zero (2-2)
O Bayern Munique voltou a sentir-se grande nas pegadas de tédio do Real Madrid
É quando o que possuímos começa a causar tédio que a mudança ganha formas bizarras. Repare-se que a invenção da roda vinha para solucionar os grandes problemas da humanidade e a estulta humanidade já galgou terreno para estabelecer diálogos aleatórios com o ChatGPT. O Real Madrid é o poder instalado no futebol europeu. 14 Ligas dos Campeões são milhares de histórias para contar e não é que se aviste um final próximo para a hegemonia. Parece sim que os merengues estão a tentar averiguar qual o método mais inusitado para repetirem o feito.
Carlo Ancelotti, treinador do Real Madrid, tinha como escudo o facto de, nos quartos de final, estar a enfrentar o Manchester City, atual detentor do troféu. A proteção serviu-lhe de amparo para renunciar ao estatuto do clube espanhol e conduzir onze carros de alta cilindrada como se estivesse ao volante de camiões. A estratégia defensiva permitiu levar a eliminatória para os penáltis e garantir o direito a jogar com o Bayern Munique nas meias-finais.
Desta vez, o treinador italiano, que foi acusado pelos advogados da sorte de recorrer a ela em demasia na eliminatória contra o Manchester City, enfrentava o clube que, 11 anos depois, deixou de ser campeão alemão. Porventura, era injustificado repetir a rudimentar estratégia.
“Tenho uma ideia muito clara sobre o papel do treinador. Há dois tipos de treinadores: os que não fazem nada e os que causam muitos estragos. Tento ser dos que não fazem nada. O jogo é dos jogadores. Podes dar-lhes uma determinada estratégia e eles têm de estar convencidos de que a podem cumprir. Depois, há a qualidade de jogo, há a atitude, há o compromisso. O que pode fazer um treinador é que os jogadores entendam bem o que é o trabalho de equipa. A qualidade tem o Real Madrid, tem o Bayern Munique, tem o Paris Saint-Germain… A diferença está onde queres colocar essa qualidade”, discursou Ancelotti, antevendo o confronto com o Bayern Munique.
Pois bem, o Real Madrid voltou a colocar o talento ao serviço de uma postura subserviente que fez acordar o Bayern Munique, mas não sem lhe aproveitar os momentos de bocejo para conseguir um empate (2-2). Ainda que no decorrer do jogo os bávaros tenham voltado a viver o sentimento de grandeza, vão desconfiados para a segunda mão.
O Bayern Munique, que não vence o Real Madrid desde 2012, numa altura em que também não era campeão alemão, quebrou uma tendência. Nos últimos quatro jogos entre os dois emblemas, os alemães tinham marcado primeiro em todos e mesmo assim não conseguiram vencer, tal como, para sua desgraça, voltou a acontecer. Leroy Sané, ainda dentro do minuto inicial, teve uma oportunidade para inaugurar o marcador. Às custas de Lunin, não o fez. Um passe melífluo de Toni Kroos lançou Vinícius Jr. para que fosse o Real Madrid a marcar primeiro.
O 4X4X2 losango, que em condições normais solta Rodrygo e Vinícius Jr. pelas ruas do ataque, estava a assemelhar-se mais a um 4X4X2 tradicional por força de se encontrar dobrado em posição defensiva. Noutras circunstâncias, seria Rodrygo a acompanhar Vinícius Jr. no ataque às costas da defesa, mas visto que o sistema tático se encontrava em posição fetal, Jude Bellingham apareceu mais adiantado do que o suposto, não oferecendo a dose de velocidade necessária.
De qualquer modo, Bellingham, dentro daquilo que são as funções que o evidenciam, ajudou Toni Kroos e Tchouaméni a bloquearem o corredor central. Como resposta, Thomas Tuchel, lançou Raphaël Guerreiro ao intervalo para o meio-campo. O Bayern Munique cresceu e, no espaço de quatro minutos, completou a reviravolta. A diagonal de Leroy Sané abriu fendas e a grande penalidade de Harry Kane, arrancada por Musiala, quebrou a resistência merengue.
A postura do Real Madrid não se alterou substancialmente, mas quem tem avançados que são artistas em cima de pitons, corre o risco de ser feliz. Com o mecenato de Kim Min-jae, Rodrygo caiu na área. Viníciu Jr. empatou (2-2) e definiu que o ponto de partida será o zero quando a segunda mão da meia-final começar a rolar. No Estádio Santiago Bernabéu, o clássico europeu vai ter mais uma recriação e reforçar o estatuto de jogo que mais vezes se repetiu ao longo da história da Liga dos Campeões. Com a passagem à final de Wembley em disputa, aí sim, alguém vai ficar para a história.