Monfalcone, a cidade italiana onde os muçulmanos até estão proibidos de rezar (ficaram sem críquete e as mulheres não podem usar burquini)

Não foram nem a paisagem, nem a história e a arquitetura que colocou a cidade italiana no mapa mediático. Desde 2023 que as decisões políticas face à população muçulmana dividem a população

monfalcone, a cidade italiana onde os muçulmanos até estão proibidos de rezar (ficaram sem críquete e as mulheres não podem usar burquini)

Monfalcone, uma cidade turística, no norte da Itália, em pleno golfo de Trieste, tem entrado no espaço mediático internacional devido à instabilidade social causada pelas decisões dos políticos locais para com a população muçulmana. A mais recente, no final do ano, foi a proibição do culto religioso em centros culturais, já depois de no último verão ter sido proibido o uso de burquinis na praia. Recentemente, conta este domingo o jornal britânico “Guardian”, chegou a uma das associações culturais um envelope com duas páginas do Alcorão, um livro sagrado para os muçulmanos, queimadas.

“Foi doloroso, um grave insulto que nunca esperámos”, disse Bou Konate, presidente da associação cultural muçulmana Darus Salaam onde o envelope foi entregue, citado pelo jornal britânico. “Mas não foi uma coincidência. A carta era uma ameaça, gerada por uma campanha de ódio que alimentou a toxicidade”, completou.

Uma das primeiras políticas de restrição em Monfalcone foi remover os bancos da praça principal, “supostamente porque eram usados ​​principalmente por imigrantes”, revela o “Guardian”. A autarca da cidade e do integrante do partido anti-imigração Liga, Anna Maria Cisint, tentou limitar o número de crianças estrangeiras nas escolas, assim como excluiu o críquete, desporto popular entre a população vinda do Bangladesh, do festival desportivo da cidade. Em agosto de 2023, no verão passado, a autarca proibiu as mulheres muçulmanas de usarem burquini na praia. Mas a proibição de orações, imposta em Novembro, terá sido a que mais efeito causou.

Na véspera da consoada de Natal, a 23 de dezembro do ano passado, grupos da sociedade civil manifestaram-se contra o encerramento de dois centros culturais muçulmanos em Monfalcone. Na altura, as autoridades locais, citadas pela comunicação social, afirmaram que “vários milhares de pessoas” participaram participado. Em resposta, as forças de segurança da cidade adotaram uma atitude de prevenção, reforçando os efetivos ao longo de várias horas com receio de que a manifestação provocasse perturbações nos transportes.

A comunidade do “Bangladesh e outros habitantes em Monfalcone dizem que as decisões de proibir o culto em centros culturais e de proibir os burquinis na praia fazem parte da agenda anti-islâmica”.

O presidente da Câmara de Trieste, Roberto Dipiazza, também ele integrante de um partido de direita anti-imigração, o Força Italia, comentou a situação: “se os muçulmanos vêm para a Itália, têm de se adaptar aos costumes do país”. A própria primeira-ministro, Giorgia Meloni, através do partido Irmãos de Itália, defendeu o encerramento dos espaços de oração muçulmanos por todo o país. E, em janeiro, questionada sobre a situação de Monfalcone, Meloni respondeu apenas que “aqueles que escolhem viver em Itália devem respeitar as normas italianas”.

Metade dos estrangeiros em Monfalcone são muçulmanos

A comunidade muçulmana em Monfalcone representa cerca de 6600 do total de 9400 habitantes estrangeiros da cidade, segundo dados fornecidos pela presidente da autarquia em entrevista ao britânico “Observer”.

O crescimento populacional, que recentemente ultrapassou o total de 30 mil habitantes, “é atribuído principalmente ao estaleiro do gigante estatal Fincantieri, cuja política de mão de obra nas últimas duas décadas levou a um enorme fluxo de trabalhadores estrangeiros qualificados, principalmente do Bangladesh”. A mão-de-obra imigrante mais barata está a superar o recurso aos trabalhadores italianos, especialmente na construção de navios de cruzeiro.

Segundo a legislação italiana, este tipo de medidas proibitivas não são de âmbito municipal e, segundo a Agência Brasil, a última vez que uma autoridade local tentou avançar com políticas como esta, esta foi obrigada a pagar uma indemnização por discriminação racial. O episódio aconteceu em 2009, quando o então presidente da Câmara de Varallo Sesia, na região de Piemonte, Gianluca Buonanno, colocou sinais no território do município a proibir os vários tipos de véus utilizados pelas mulheres muçulmanas. Cinco anos mais tarde foi condenado a pagar uma indemnização a duas pessoas que se sentiram discriminadas.

As restrições ao vestuário por motivos religiosos não são permitidas pelos tratados internacionais, mas as roupas usadas por mulheres muçulmanas em vários países europeus continua a gerar polémica e a apresentação de casos em tribunal. Em Portugal, por exemplo, em 2017, em Albufeira, no Algarve, duas mulheres britânicas muçulmanas foram expulsas de uma piscina de um hotel por completamente vestidas, segundo noticiado pelo “Observador”.

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