O presidente russo, Vladimir Putin, foi entrevistado pelo antigo apresentador da Fox Tucker Carlson na quinta-feira. Segue-se a análise da Associated Press a cinco das principais ideias apresentadas pelo Presidente da Rússia durante quase duas horas de entrevista
Tucker Carlson e Vladimir Putin
Algumas das afirmações relevantes do presidente russo, Vladimir Putin, durante a entrevista com o antigo animador da Fox Tucker Carlson, foram contextualizadas pela Associated Press, designadamente as relativas à guerra na Ucrânia.
1. O início da guerra na Ucrânia
O que disse Putin: “Foram eles [ucranianos] que começaram a guerra em 2014. O nosso objetivo é que ela acabe. E não começámos esta guerra em 2022. Isto é uma tentativa de acabar com ela”.
O contexto: A declaração refere-se à violência na Ucrânia desencadeada pelo derrube, em 2014, do presidente amigo de Moscovo, Viktor Yanukovych, no seguimento de massivas manifestações antigovernamentais em Kyiv. A Federação Russa respondeu com a anexação da Crimeia, enquanto começavam combates no leste industrial da Ucrânia, onde separatistas pró-russos alegavam que estavam a tentar proteger a população de fala russa.
Quando Putin iniciou a invasão militar da Ucrânia, em 24 de fevereiro de 2022, os líderes ucranianos e os aliados ocidentais consideraram-na um ato não provocado de agressão. Putin disse que for a forçado a agir de forma preventiva para impedir a Ucrânia de aderir à NATO e uma ofensiva em larga escala ucraniana destinada a recuperar os territórios do leste. A Federação Russa não avançou qualquer prova de preparação de tal operação.
2. Alegações de “desnazificação” da Ucrânia
O que disse Putin: “Ainda não os nossos objetivos, porque um deles é o da desnazificação. Isto significa a proibição de todos os tipos de movimentos neonazis”.
O contexto: A frase segue as tentativas repetidas dos propagandistas russos de descreverem o presidente ucraniano, Volodymyr Zelenskyy, como neonazi ou simpatizante do nazismo, apesar de ele ser judeu e já ter dito que três dos seus tios-avôs morreram durante o Holocausto. Putin não divulgou qualquer prova que sustentasse a sua afirmação repetida de que grupos radicais e ultranacionalistas influenciam Zelenskyy e têm uma voz decisiva na definição das políticas do país.
3. Fracasso das primeiras negociações de paz
O que disse Putin: “Assim que retirámos as nossas tropas de Kyiv, os negociadores ucranianos de imediato atiraram para o caixote do lixo os acordos alcançados em Istambul e prepararam-se para um confronto armado prolongado, com a ajuda dos EUA e dos seus satélites na Europa”.
O contexto: De facto, representantes russos e ucranianos negociaram um acordo provisório em Istambul, em março de 2022, um mês depois do início da invasão russa, mas rapidamente colapsou. Enquanto os russos descreveram a retirada das suas tropas das áreas circundantes de Kyiv como um sinal de boa vontade, efetivamente o Kremlin foi obrigado a retirar devido às perdas pesadas e aos problemas logísticos sofridos quando tentou capturar a capital ucraniana.
Serviços de socorro num local que foi alvo de ataque pelas forças russas, em Kharkiv, a 10 de fevereiro de 2024.
4. Negociações futuras
O que disse Putin: “Não rejeitámos negociações”.
O contexto: Enquanto insiste que está aberto a negociações, o Kremlin mantém uma posição inflexível, segundo a qual a Ucrânia tem de reconhecer e aceitar os ganhos que a Federação Russa fez no leste e sul do país. Por sua vez, a Ucrânia assegura que não são possíveis quaisquer negociações até à retirada total dos russos das áreas ocupadas. Em setembro de 2022, o Kremlin anexou ilegalmente as regiões de Donetsk, Lugansk, Zaporizhzhia e Kherson, que se juntaram à Crimeia.
5. Acusações de espionagem a Evan Gershkovich
O que disse Putin: “Ele foi apanhado em flagrante quando estava a receber secretamente informação classificada”.
O contexto: Gershkovich, um jornalista norte-americano do The Wall Street Journal, foi detido na Rússia em março de 2023, acusado de espionagem, e tem estado detido desde então a aguardar julgamento. Gershkovich e o jornal negam as acusações e o governo norte-americano assegurou que ele está detido injustamente. As autoridades russas não divulgaram qualquer prova mencionada por Putin para apoiar a acusação. Putin também sugeriu que se podia fazer uma troca de prisioneiros.
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