Os "jotas" e os "senadores" contra Albuquerque: como Manuel António preparou a candidatura ao PSD Madeira

«Acabou-se a campanha. Continuaremos como sempre fomosР’В»

No arquipélago, ninguém esquece a luta sucessória de 2014, depois de décadas do império de Alberto João Jardim à frente do PSD e do governo da região. Nesse ano, perfilaram-se vários candidatos, mas só dois se conseguiram afirmar: Miguel Albuquerque, à época com o capital político de liderar a autarquia do Funchal – acutilante no discurso e irreverente na rua -, e Manuel António Correia: governante discreto e da total confiança de Jardim.

Naquele ano, numa segunda volta em que Albuquerque conseguiu o apoio de Sérgio Marques, candidato que ficara em quarto lugar, a ala crítica dos sociais-democratas madeirenses venceu o candidato da continuidade e a correlação de forças dentro do partido que sempre governou o arquipélago alterava-se, numa volta de 180 graus.

Albuquerque tomou o poder, manteve de perto o baronato madeirense – com Jaime Filipe Ramos à cabeça e Pedro Calado de braço dado – e Manuel António, derrotado, afastou-se da vida política.

Até que, dez anos mais tarde, uma megaoperação da Polícia Judiciária espoletou uma crise sem precedentes na região, politicamente monocromática desde a sua existência autónoma. A lealdade para com Albuquerque passou de um dado adquirido, uma espécie de encenação para manter o regime nas mãos de um PSD Madeira só unido nas aparências, a uma oportunidade para revitalizar os velhos ecos do jardinismo.

Logo no primeiro dia da operação na Madeira, o telefone de Manuel António tocou por diversas vezes. Do outro lado, militantes, ex-governantes afastados por Albuquerque na composição do último executivo regional e jovens sociais-democratas faziam juras de apoio incondicional ao ex-governante, se daí resultasse a deposição do atual presidente do governo e a necessidade de encontrar uma solução de liderança que agradasse ao parceiro parlamentar – o PAN – e ao Presidente da República.

A reação de Manuel António não surpreendeu quem o conhece das lides políticas. “Fechou-se em copas. É provavelmente o político mais cauteloso da região, senão mesmo do país”, conta à CNN Portugal um notável social-democrata madeirense.

O silêncio manteve-se durante as semanas seguintes, perante as dúvidas constitucionais e o decorrer do processo judicial, que servira de gatilho ao terremoto político na região.

Com Pedro Calado em liberdade e o arrasador despacho do juiz de instrução, a cúpula de Albuquerque viu uma brecha de esperança para voltar a controlar a narrativa do partido: recuou na própria demissão e, em Conselho Regional do partido, convoca eleições diretas, num prazo relâmpago.

O que Miguel Albuquerque não contava é que a unanimidade albanesa dos sociais-democratas fosse posta em causa pela geração mais jovem do partido: a JSD. Foram precisamente os conselheiros da juventude do partido que se abstiveram na votação e trouxeram à luz do dia um descontentamento que já era antigo: por um lado, Dinis Ramos, eleito à Assembleia da República, já tinha ficado de fora das listas às eleições de 10 de março; por outro, as relações com a direção regional do partido também já havia conhecido melhores dias.

A partir daí, multiplicaram-se os relatos de pressões aos descontentes mais vocais e noticiaram-se alegados golpes de secretaria para evitar que a oposição interna se conseguisse organizar, mas ainda não era tarde para os opositores.

Manuel António, ainda que cauteloso, pôs a candidatura em marcha, com o apoio dos setores mais jovens do partido. A mobilização para a recolha de assinaturas iniciou-se no fim de semana, de manifestações de apoio começaram a surgir os apoios formais e o ex-governante, ainda que em silêncio e sem oficialmente deslindar o mistério, mostrou ser ele próprio o obreiro da iniciativa. Para além de grande parte da JSD, onde se incluem deputados nacionais, e do aval maior de Alberto João Jardim, Manuel António sabe que tem a seu favor o facto de ter estado afastado da vida pública durante uma década, permitindo-lhe cavalgar a imagem de político sem cadastro, que não tem nada que ver com os escândalos de corrupção que a justiça investiga no seio da elite social-democrata e empresarial do arquipélago.

Longe das hostes do apoio ao ex-governante ficou Bruno Melim. O presidente da JSD Madeira chegou mesmo a dizer-se “preparado para tudo o que o partido precisasse”, numa entrevista ao DN Madeira, deixando em aberto o futuro, mas mantendo sempre uma postura pública de lealdade para com Albuquerque. Percebe-se agora que essas posições públicas terão sido estritamente pessoais, uma vez que aparentam estar desalinhadas com o posicionamento da restante estrutura que representa os jovens sociais-democratas madeirenses: não só grande parte da JSD escolheu apoiar Manuel António, como o próprio candidato traduziu esse apoio em lugares destacados nas listas às internas, integrando seis “jotas” na sua Comissão Política – o deputado Dinis Ramos, António Gonçalves, primeiro vice-presidente da JSD (apontado por muitos a voos mais altos na vida autárquica da região) e a secretária-geral da estrutura, Jéssica Faria – bem como um vogal no Secretariado Regional.

A verdade é que, em pouco mais de 48 horas, os “jotas” conseguiram o que em semanas os quadros mais velhos tentaram sem sucesso: serem os impulsionadores da “crónica de uma candidatura desejada” e que, independentemente do resultado que possa ter nas diretas, tem os jovens no centro da decisão. Acontece que, como os políticos amplamente repetem, os jovens são o futuro, mas o passado também pesa na hora de convencer os militantes e Manuel António também teve isso em conta. Nas listas aos órgãos do partido, a que CNN Portugal teve acesso, consta o nome de Francisco Fernandes. O ex-secretário regional da Educação de Jardim, respeitado e acarinhado na comunidade madeirense, encabeça o grupo de senadores que veem em Manuel António a melhor alternativa para recuperar as bandeiras do jardinismo. Um apoio de peso, que pode ajudar a agregar alguns ilustres e a convencer muitos militantes da chamada velha guarda. Por último, o candidato aceitou incluir na lista à Comissão Política Regional uma das líderes do descontentamento com a atual situação do partido; Sara Madruga da Costa, deputada na Assembleia da República, afastada pela atual direção nas listas para as legislativas de 10 de março, tem sido uma das sociais-democratas mais vocais contra a direção de Albuquerque e a postura do presidente demissionário desde o início da crise politica na região. Críticas que não se esgotaram no comentário político e que agora têm decalque real num projeto que desafia frontalmente a atual direção. Uma candidatura preparada em tempo recorde, para evitar que Albuquerque vá a eleições sem qualquer oposição.

Lista da Candidatura de Manuel António Correia:

Comissão Política

Presidente: Manuel António Correia

António Teles de Freitas

António Azevedo

António Gonçalves

Agostinho Gouveia

Emanuel Sousa

Francisco Fernandes

Gil Alves

Jaime Lucas

Jéssica Faria

João Dinis Ramos

Leonel Silva

Lídia Teles de Abreu

Nuno André Alves

Nuno Lima Bastos

Orlandina Figueira

Pedro Freitas

Sara Madruga da Costa

Vítor Abreu

Secretariado

Secretário-geral: João Abel Lucas

Celso Bettencourt

Carlota Oliveira

Eduardo Freitas

Teodósio Faria

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