Trump acusado de "conspiração criminosa", defesa garante que ex-Presidente dos EUA é inocente

No arranque de um julgamento histórico e sem precedentes do ex-presidente dos Estados Unidos, a acusação considerou que Donald Trump orquestrou uma “conspiração criminosa” e cometeu “fraude eleitoral” no caso dos alegados pagamentos à estrela de filmes pornográficos, Stormy Daniels.

Depois de uma primeira semana inteiramente dedicada à escolha do júri, o candidato republicano às eleições presidenciais de 2024 começou esta segunda-feira a ser julgado no tribunal de Nova Iorque no caso do alegado pagamento de 130 mil dólares à atriz Stormy Daniels em troca do seu silêncio sobre um, pouco antes das eleições de 2016, que Trump viria a vencer.

Donald Trump esteve presente no tribunal esta segunda-feira e será obrigado a assistir a todas as audiências do julgamento. “Este é um dia muito, muito triste para a América”, afirmou o ex-presidente à entrada para o tribunal, queixando-se de uma operação política de “caça às bruxas”.

O mesmo aconteceu à saída. “Sou o candidato que está à frente… e é por isto que me estão a tentar tirar da campanha. Por cheques que foram entregues a um advogado”, declarou Trump.

Em declarações aos jornalistas, admitiu que a presença nestas audições tem impacto na campanha às eleições de 2024. Donald Trump afirmou que deveria estar a fazer campanha na Geórgia e na Flórida. Em vez disso “estou aqui sentado, e isto vai durar muito tempo”.

“É muito injusto o que está a acontecer. Eu devia ter autorização para estar em campanha”, acrescentou.

Caso “teria sido devastador para a campanha”

No ato primordial deste julgamento após a escolha do júri, a acusação elencou as questões do caso. Matthew Colangelo, um dos procuradores de Manhattan que integra a acusação, afirmou que Donald Trump “orquestrou uma conspiração criminosa para distorcer as eleições presidenciais de 2016” e “mentiu repetidas vezes em documentos contabilísticos” para encobrir esses atos.Donald Trump é acusado de falsificar documentos num esquema para ocultar histórias que poderiam prejudicá-lo durante a campanha às eleições presidenciais de 2016. Em concreto, a acusação diz que o ex-presidente pagou 130 mil dólares à atriz Stormy Daniels para evitar que se soubesse de um alegado encontro sexual, encontro esse que Trump nega.

Na argumentação da acusação, a falsificação de documentos contabilísticos pela Organização Trump constitui “fraude eleitoral, pura e simples”.

Isto porque, afirmou o procurador, estas falsificações permitiram a transferência de 130 mil dólares à Stormy Daniels por via de um pagamento, disfarçado de honorários, entregue Michael Cohen, o antigo advogado de Donald Trump. O objetivo seria encobrir um encontro sexual entre o candidato e a atriz numa altura em que Trump já era casado com Melania.

“Era uma mentira”, defendeu o procurador Matthew Colangelo, argumentando que

Michael Cohen “não estava a ser pago pelos seus serviços”, mas sim a receber um “reembolso” do pagamento feito à atriz.

Perante o olhar atento de Trump, o procurador lembrou ainda o vídeo publicado a 7 de outubro de 2016 pelo Washington Post, em que o candidato é gravado a vangloriar-se de atos impróprios com mulheres, nomeadamente “agarrá-las” pelos genitais.

“A campanha entrou de imediato em modo de controlo de danos”, refere Colangelo, considerando que foi um momento com grande impacto a apenas um mês das eleições.

Neste julgamento, não são permitidas câmaras de televisão dentro do tribunal, mas os jornalistas que puderam assistir à audiência notaram o desconforto de Trump neste momento, sobretudo quando a frase que o ex-Presidente diz no referido vídeo foi lida perante o júri, sublinha o jornal The Guardian.

A acusação sublinhou que o caso Stormy Daniels chegou aos radares da campanha apenas um dia após a divulgação do vídeo, pelo que a equipa do então candidato terá procurado abafar quaisquer informações prejudiciais.

Na narrativa dos procuradores, a vinda a público de uma história de infidelidade, neste contexto, com uma estrela de filmes pornográficos “teria sido devastadora para a campanha”.

“Nenhum político gosta de má publicidade, mas as provas em julgamento vão mostrar que não se tratou de uma estratégia de comunicação ou de uma mentira. Foi uma conspiração de longa duração, planeada e coordenada para influenciar as eleições de 2016 e para ajudar Donald Trump a ser eleito, recorrendo a de despesas ilegais para silenciar pessoas que tinham algo de mau a dizer sobre o seu comportamento”, argumentou.

Em representação da acusação, Matthew Colangelo reconheceu ainda que “nunca se saberá” se o resultado da eleição teria sido o mesmo caso a informação tivesse vindo a público.

Trump quis “proteger a família e a sua reputação, isso não é um crime”

Por sua vez, a defesa do candidato republicano declarou que Donald Trump é “inocente” e “não cometeu nenhum crime”. Referindo-se sempre ao “Presidente Trump”, o advogado Todd Blanche refutou as insinuações da acusação, afirmando que “não há nada de errado em tentar influenciar uma eleição, chama-se a isso uma democracia”.

Se por um lado procurou humanizar Donald Trump como “homem, marido, pai, uma pessoa como eu e vocês”, afirmou também que o Presidente, título que aliás merece pela vitória nas eleições de 2016, é “em alguns aspetos, maior do que a própria vida”.

O advogado de defesa de Trump argumentou ainda que o ex-presidente não estava a par dos pormenores de pagamentos porque deixou essa função a cargo do advogado Michael Cohen.

“Trump não teve nada a ver com os 34 cheques, a não ser assiná-los”, destacou. Por outro lado, a defesa sublinha que a assinatura de um acordo de confidencialidade é algo “perfeitamente legal” que as empresas fazem “a toda a hora”.

Contrariando a narrativa da acusação, Todd Blanche argumenta que, neste caso, Donald Trump apenas quis proteger a família. “Foi uma tentativa de envergonhar o Presidente Trump, de envergonhar a sua família. (…) Naquela altura havia todo o tipo de alegações lascivas a circular sobre o Presidente Trump e isso foi-lhe prejudicial e foi prejudicial para a sua família”, vincou.

“O Presidente Trump reagiu – como sempre faz – e como tem o direito de fazer, para proteger a sua família, a sua reputação e a sua marca. Isso não é um crime”, acrescentou ainda.

Com um ataque prévio às principais testemunhas da acusação, Michael Cohen e Stormy Daniels, que deverão depor contra Donald Trump nas próximas semanas, o advogado de defesa acusou Cohen de estar “obcecado” pelo ex-presidente e que apenas revelou a história porque “não conseguiu um emprego” na Administração Trump.

Quanto a Stormy Daniels, a defesa afirmou que a atriz “construiu a sua vida” com base na alegada relação e ligação a Donald Trump e que o seu papel neste julgamento é irrelevante.

“Ela não sabe nada sobre as 34 acusações neste caso. Ela não tem ideia do que Michael Cohen escreveu na fatura. O seu testemunho, embora seja obsceno, não importa”, argumentou.

A primeira testemunha

O primeiro dia de julgamento terminou com o início do depoimento da primeira testemunha, David Pecker, um aliado de Trump que foi CEO da empresa que detém o tablóde norte-americano National Enquirer.

À data, David Pecker apoiou o então candidato adquirindo os direitos de pelo menos três histórias potencialmente prejudiciais, incluindo a da alegada relação com a atriz Stormy Daniels, com o objetivo de evitar que fossem publicadas.

Sobre este ponto, a defesa tinha argumentado imediatamente antes que este tipo de acordos acontece regulamente com “políticos, pessoas famosas, pessoas ricas” e que “não há nada de ilegal” nesse tipo de entendimentos. O depoimento de David Pecker deverá ser retomado já esta terça-feira.

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