A tinta estragou-lhe o fato mas já lhe arranjaram um novo para dia 10. Até lá Montenegro conta com Cristas para pedir maioria às mulheres

a tinta estragou-lhe o fato mas já lhe arranjaram um novo para dia 10. até lá montenegro conta com cristas para pedir maioria às mulheres

Montenegro e Cristas

Foram as últimas horas que fizeram com que Paulo Pereira decidisse fazer algo que ele próprio considerou arriscado. Furar a arruada de dezenas de militantes e dirigentes sociais-democratas, em que caminhava Luís Montenegro, em Leiria, para abraçar o candidato e segredar-lhe ao ouvido que “o seu sentido de calma foi espetacular”.

“No final de contas, foi a minha mulher que me incentivou”, conta o bancário, esguio e alto, de 57 anos. “Ontem vimos na televisão o Luís Montenegro a ser atingido com tinta e pensámos que ele ia ficar enervado, mas não, a calma dele foi simplesmente fantástica e a minha mulher disse-me: ‘se tiveres oportunidade, vai ter com ele, porque ele tem feito uma campanha espetacular”, acrescenta, visivelmente emocionado.

Paulo acompanhou até ao fim a arruada, mas ficou o resto do tempo à distância, a recuperar dos nervos. Mas à medida que Montenegro ia atravessando a avenida Heróis de Angola, muitos foram aqueles que repetiram o gesto. “Já está recuperado de ontem? O que lhe fizeram não se faz”, disse Maria de Jesus, que há mais de 50 anos vende castanhas naquela rua e que no dia anterior já tinha ficado a conversar com Pedro Nuno Santos. Sobre qual prefere, reserva para si, com a garantia de que “vêm cá todos parar”.

Mas, mesmo a simpatia tem limites, especialmente quando se entope o trânsito. E perante o afunilamento daquela que é uma das artérias principais de Évora, a gaita de foles e os tambores alugados para a arruada eram muitas vezes condicionados por buzinões. “Saiam da frente, pá!”, implora um condutor já com o pescoço vermelho em contenção para não encostar a roda ao pé de um jovem militante que empunhava um megafone. “Tem de ter paciência”, riposta.

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Montenegro em campanha no distrito de Leiria

 

Paciência é coisa que João Pereira, engenheiro de 51 anos, já não tem e, ao ver o líder da Aliança Democrática passar por ele grita-lhe: “É para virar à direita a sério, senão nunca mais lá chegamos”. Lá, refira-se, ao Governo. “Temos de votar nos contrarrevolucionários se queremos ter ordem e disciplina”, diz, explicando que o seu voto já está assegurado no Chega e nem um abraço de Montenegro pode desfazer esse futuro. “É o único partido de voto útil no qual me revejo por causa do imenso barulho que se faz na rua em minha casa à noite”.

Quem também fez questão de esperar na fila dos beijinhos e abraços de Montenegro foi a irmã de Paulo Rangel, vice-presidente do PSD, Rosário, que é freira no Convento de Leiria. Já mais distante estava Maria Fátima, 68 anos. Ao presidente do PSD pediu-lhe que cumpra aquilo que promete, especialmente relativamente à garantia de condições para que os jovens emigrantes regressem a Portugal. “Esperamos que venha mesmo um tempo de mudança”, diz, “já dói que chegue ver a minha filha lá fora, saiu há 11 anos”.

Há 11 anos estava Pedro Passos Coelho no Governo – discursou na segunda-feira, deu polémica. Há 11 anos estava Assunção Cristas a assinar como ministra a lei que mudou o arrendamento para sempre, discursou esta quarta-feira, vai dar polémica? Logo durante a tarde, Mariana Mortágua aproveitou a confirmação da centrista para sublinhar que “foi a direita que criou as bases para a crise da habitação que está a expulsar as pessoas das cidades”, referindo-se nomeadamente à ‘Lei Cristas’.

Francisco Camacho, líder da Juventude Popular, desvaloriza. “Esse fantasma da ‘Lei Cristas’ foi um estigma que a esquerda criou, porque a verdade é que não é mais do que o novo regime do arrendamento urbano que de resto apesar de algumas alterações mantém em vigor, portanto o próprio PS reconheceu que essa mudança foi importante”.

Aliás, diz à CNN Portugal, “os fantasmas que se criaram também com esse diploma ficaram muito evidenciados naquela artimanha que Mortágua lançou durante os debates”. A artimanha, refira-se, foi o caso da renda da avó da líder do Bloco de Esquerda que a meio de um debate contra Luís Montenegro disse que ficou de sobressalto “ao receber cartas do senhorio, porque não sabia o que é que lhe ia acontecer” – só que a lei impedia o despejo a quem tinha mais de 65 anos, que era o caso.

Ao longo do dia, Montenegro foi também dando pistas sobre que outros sociais-democratas possam vir a ter destaque na campanha eleitoral. Para além de Passos Coelho e de Assunção Cristas, já outros ex-líderes do PSD e do CDS, como Cavaco Silva, Paulo Portas, Santana Lopes e Marques Mendes manifestaram apoio público ao candidato. Chegará a vez de Rui Rio? “Virão todos, estamos de espírito aberto”, disse durante uma visita ao Centro de Estágios de Rio Maior.

Cristas pede maioria através das mulheres

Montenegro e Cristas chegaram juntos a um jantar-comício com 1800 pessoas em Ourém, no distrito de Santarém, já depois de Luís Montenegro ter dado uma nega ao repto de que Rui Rocha, líder da Iniciativa Liberal tinha pedido no início do dia: uma maioria absoluta através do voto nos dois partidos.

O discurso de Assunção Cristas, constantemente pontuado pela celebração dos golos do dérbi de Lisboa – e da anulação do último -, veio na mesma linha. Após a polémica gerada por Paulo Núncio que pediu um referendo ao aborto, a antiga líder do CDS-PP decidiu virar-se para as mulheres e pedir-lhes que se “empenhem na conversa porta a porta” para angariar o máximo de votos possível para a AD. Se cada mulher desta sala converter mais dois votos, podem ter a certeza que no dia 10 de março será uma robusta maioria”.

Já Montenegro concentrou o seu último discurso da noite na valorização do trabalho. “Eu não aceito um país que muita gente que trabalha chegue ao fim do mês com menos dinheiro do que muita gente que não trabalha” Ao dizer isto, sublinha, o que quer dizer “é que se damos essa solidariedade a quem não está a trabalhar, também temos de ser solidários com quem trabalha”.

Utilizando novamente o bordão de que o PS se tem confundido com o Estado, sublinha que o partido quer “manter as pessoas no ciclo de pobreza para que elas fiquem reféns do Estado e tirem partido dos recursos que são de todos nós”.

Um novo fato para Montenegro

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Luís Montenegro experimenta um novo fato numa fábrica em Ansião

De manhã, a conversa entre a comitiva da Aliança Democrática continuava a rondar a tinta verde. Nuno Melo, que chegou cedo a Ansião, onde a campanha visitou uma fábrica de confecções especializada em casacos masculinos, desabafou com outros dirigentes sociais-democratas a raiva que teve no dia anterior. “Chamei-lhes de tudo”, diz a um.

Atrasado cerca de 45 minutos, Montenegro chegou de sorriso no rosto para uma visita guiada à Avelmod, a fábrica que emprega 140 pessoas, onde ouviu, acenando com a cabela, as queixas dos donos sobre o aumento dos custos de produção e a falta de procura. “Precisamos urgentemente de mais apoio”, diz um dos proprietários, sublinhando que a descida anual do IRC proposta pela AD é “muito importante para estarmos preparados para o futuro”.

Após essa primeira interação, foi a vez de Montenegro vestir um dos blazers produzidos pelas máquinas de costura que a todo o vapor se ouvem na sala ao lado. “Qualquer trapinho fica bem ao próximo primeiro-ministro de Portugal!”, grita um militante ao mesmo tempo que tiram as medidas ao candidato. “Eu ando entre o 52 e o 54, mas admito que com o andar da campanha me aproxime mais do último”.

Já enroupado com um blazer preto, Montenegro caminha até um espelho grande, roda os ombros e constata “este aqui é para primeiro-ministro”, o outro – sujo com tinta verde – “já não tem cura”.

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