A cara de Ventura atropelada por uma cadeira de rodas e mais cafés em vez de lingerie. Montenegro não pede maioria onde Passos quis ser absoluto

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Montenegro – Campanha

Na passagem da caravana de Montenegro por Chaves, a loja de lingerie de Fernanda não teve direito a um número à la Rui Rio – “não são para toda a gente, são para quem gosta”, dizia o antigo líder durante a campanha para as europeias enquanto tentava granjear o voto dentro deste estilo de lojas no Porto. Fernanda também não queria de outra forma, “eu já decidi o meu voto, ele que vá convencer para o café do lado”.

O café do lado, o café da esquina, o café central e o café da zona. Nos últimos dias, Luís Montenegro tem feito hábito de reunir a sua comitiva em cafés e pastelarias e lá tentar atrair o voto útil dos divididos. Quando lá chega, contudo, as estratégias são diferentes. Na Figueira da Foz tentou convencer – Santana Lopes, incluído – através das medidas que tem para contrariar a subsidiodependência. Em Portalegre, com um ecrã a transmitir imagens de Pedro Nuno Santos, tentou convencer uma senhora de que ele vai aos sítios e não aparece só nas televisões.

E esta segunda-feira, em Chaves, perante alguns gritos zangados por as classes políticas “abandonarem o interior”, tentou convencer quem o seguia de que ele ia fazer diferente. E assumiu aí um caderno de encargos: quando abrir o processo de revisão constitucional vai avançar com um projeto para permitir que as regiões despovoadas do interior possam ter maior representação no Parlamento. “Vamos retomar esse projeto que permita abrir a representação não só em função da população, como do território, senão qualquer dia há distritos que, por e simplesmente, não têm representação”.

Paulo Vargas, engenheiro eletrotécnico de 53 anos, foi um dos que Montenegro tentou convencer com esse discurso. Alvo fácil, visto que o seu voto já está seguro na AD – “desde sempre que voto disciplinadamente no PSD”. Ainda assim, o engenheiro não está seguro de que as coisas vão melhorar. “Esta terra está cada vez mais desertificada”, diz. “Como não há pessoas, não há votos, e não há vontade política para mudar – é uma pescadinha de rabo na boca”, confessa.

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Montenegro durante a arruada em Chaves esta manhã/ LUSA

De café em café, Montenegro, que seguia à frente de uma arruada não muito numerosa e com curiosos a muitos metros de distância, acabou por avançar para a Croissanteria Taiti, juntamente com o filho que apareceu discretamente nessa pastelaria. “Votem na mudança, votem na mudança”, insistiram os dois a José Pereira, o proprietário do estabelecimento há 40 anos. “Ainda se ganha muitos votos no café”, conta, “parece que não, mas é o principal sítio onde as pessoas trocam ideias e aqui há mesmo muitos indecisos e muita gente que está a pensar votar no Chega, percebo que ele insista nos cafés”, acrescenta.

José Pereira viu no momento, no entanto, alguma tibieza. “Não vi muita gente aqui de Chaves, isto não tem nada a ver com as arruadas que o Passos Coelho tinha aqui, era a rua totalmente à pinha”, afirma.

Chaves tem, de resto, um historial com Passos Coelho – nome vincado nesta campanha. Foi aqui que em 2011 o na altura presidente do PSD apelou a uma maioria absoluta. Desafiado a fazer o mesmo, Luís Montenegro rejeitou por completo essa ideia. “Eu não vou pedir nenhuma maioria, eu vou pedir votos”, disse o líder social-democrata perto da pastelaria de José Pereira. “Eu gosto de olhar para a relação entre os eleitores e os candidatos numa perspetiva individual e lutarei voto a voto para ter o maior número de votos”, reforçou.

Depois de um dia quase sem rua, a caravana de Montenegro apostou em arruadas em dose dupla e a seguir a Chaves migrou para Barcelos, o feudo laranjinha que Rui Rio perdeu por 15 votos nas últimas legislativas. No distrito que viu um dos maiores crescimentos do Chega nessas eleições, o aglomerado de militantes e jotas caminhou em ritmo lento até à Igreja Matriz com o líder do PSD, acompanhado por Nuno Melo e Hernâni Dias, cabeça de lista da região.

Uma cadeira de rodas e um panfleto do Chega

Ainda antes de a arruada começar, Iver Lemos, de 40 anos, avançava com a sua cadeira de rodas de trás para a frente a tentar ver se apanhava a chegada de Montenegro. “Quero tirar uma fotografia com ele”, contava a um grupo de outros militantes de Barcelos. O sentimento de antecipação, contudo, foi substituído por um de raiva mal viu o vento a levar para o chão um panfleto com a cara de André Ventura a prometer limpar Portugal.

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a cara de ventura atropelada por uma cadeira de rodas e mais cafés em vez de lingerie. montenegro não pede maioria onde passos quis ser absoluto

Montenegro larga o casaco numa arruada fria em Barcelos / LUSA

 

Sem hesitar, Iver atropelou com a cadeira de rodas, uma e outra vez, o panfleto. E o rosto de André Ventura passou a papel encorrilhado com marcas de pneu. “Não gosto dele porque tudo o que faz é criar revolta contra os imigrantes”, conta enquanto se ouve da boca de um militante que “nem esse gesto ele merece”. “Todas as propostas são de ódio, o André Ventura não pensa em todos os portugueses e deixa de fora os deficientes motores como eu”.

Iver desapareceu na multidão para conseguir tirar a desejada fotografia e acabou por não descer a rua até ao largo da Sé de Barcelos, onde Luís Montenegro entrou durante poucos minutos em todas as lojas de roupa abertas. Na primeira que entrou, fez questão de despir o casaco e atravessou o frio cortante apenas munido de um pullover cinzento. A arruada acabou, curiosamente, a escassos metros de uma loja de lingerie. Na qual Montenegro não entrou também.

Montenegro desvia-se do guião para atirar contra Pedro Nuno. “Para se governar é preciso estabilidade emocional”

A 4 dias do encerramento da campanha, Luís Montenegro terminou o dia num comício morno em Macedo de Cavaleiros, com um alinhamento composto pelas pessoas que seguiram Montenegro na arruada de Barcelos. Quando subiu ao palco, Montenegro permitiu-se desviar um pouco do compromisso que tem assumido de dedicar pouco tempo a criticar Pedro Nuno Santos.

Sublinhando que o líder socialista tem alinhado numa campanha de tentar incutir medo ao voto na AD, Montenegro disse que Pedro Nuno tem de “parar e pensar naquilo que diz” . “Para se governar um País também é preciso ter estabilidade emocional”.

Assumindo uma postura de “inquietado”, disse que tem visto o seu “principal adversário dizer coisas como esta: eles isto, eles aquilo, eles aqueloutro”. Ele, por outro lado – sublinha – “raramente” trata assim os seus adversários, “nem aqueles que acreditam neles, porque aqui não há o nós contra eles”. “Eu não julgo o PS a pensar que têm más intenções, nunca digo que eles querem empobrecer as pessoas. O que digo é que as políticas deles têm essa consequência”, apontou.

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