Jornais europeus destacam denúncia contra herança escravocrata e crise yanomami no Carnaval do Rio
A imprensa europeia está em ritmo de Carnaval nesta terça-feira (13) e destaca os desfiles no Brasil.
“O Carnaval do Rio mergulha na herança escravocrata do Brasil” é o título de uma matéria no jornal Le Figaro. A matéria destaca que neste ano o evento é uma oportunidade também para as escolas de samba denunciarem as injustiças do tráfico humano que destruiu as vidas de milhões de crianças, mulheres e homens, com consequências até hoje.
Le Figaro afirma que, apesar da abolição da escravatura ter ocorrido há mais de um século, ela ainda ecoa “da Amazônia ao Rio de Janeiro”. Para especialistas entrevistados pelo diário, o foco em uma época trágica da história brasileira pode ser explicado pelo contexto da volta ao poder do presidente de esquerda Luiz Inácio Lula da Silva, “aliado histórico dos movimentos sociais”.
Prova disso, diz Le Figaro, é que o ministro brasileiro dos Direitos Humanos e da Cidadania, Silvio Almeida, participou do desfile da Portela, interpretando o abolicionista Luiz Gama. Vendido como escravizado aos 10 anos de idade, esta célebre figura da história brasileira consegue fugir, se tornar escritor, depois advogado, libertando centenas de pessoas da escravização no Brasil, diz a matéria.
Yanomamis no coração de crise humanitária
Já o jornal espanhol El País dá destaque ao desfile da Salgueiro que homenageou a comunidade yanomami, “no centro de uma crise humanitária”. O diário também lembra que o desfile da escola representou o indigenista brasileiro Bruno Pereira e o jornalista britânico Dom Philipps, assassinados em 2022.
El País ressalta que, nos últimos anos, uma grande quantidade de yanomamis morreram de gripe, malária e desnutrição devido à atuação do garimpo ilegal na região amazônica. “A situação levou o governo Lula a declarar estado de emergência sanitária”, publica o jornal espanhol.
A emissora Euronews também traz imagens do desfile da Salgueiro e o apelo em prol do fim da exploração das terras yanomamis. “Mais de 70 mil pessoas e milhões de telespectadores” assistiram à mensagem dos sambistas, destaca a matéria.
O texto também reproduz o apelo do líder indígena Davi Kopenawa, que participou do desfile, que diz acreditar que o evento tenha o poder de mobilizar as autoridades. “Espero que o mundo, ouvindo nosso chamado, pressione o governo brasileiro para que nos livre de todos os mineiros, destruidores da nossa mãe Terra, que contaminam as águas e matam os peixes”, afirmou junto aos 13 outros representantes da comunidade yanomami que atravessaram o país para participar do espetáculo no Rio.
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