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Em maio de 2020, a menina de 11 anos Ruby Reynolds e seu pai, Justin Reynolds, estavam caminhando pela praia de Blue Anchor, ao longo do rio Severn, na Inglaterra. A dupla pai-filha tem o passatempo científico de procurar fósseis, e essa foi mais uma expedição familiar. Naquele dia, eles encontraram um fóssil – mas que parecia diferente dos outros achados.
Era um pedaço de osso fossilizado preso a uma rocha, só que muito maior do que os outros que estavam acostumados a encontrar. Ruby procurou pelo resto da praia e acabou achando um outro pedaço do conjunto.
Os dois levaram os exemplares para casa – o maior deles tinha 20 centímetros de comprimento. A hipótese deles era de que se tratava dos ossos da mandíbula de um ictiossauro, um grande réptil aquático que viveu a 202 milhões de anos atrás. Apesar do nome confundir, ele não era um dinossauro.
Eles não tiraram esse chute do nada: a dupla leu um estudo de 2018 em que cientistas de uma cidade próxima levantavam a hipótese de que aquele local continha pedacinhos de ictiossauros. Contudo, a pesquisa deles não foi para frente porque os exemplares que haviam achado não eram o bastante para designar uma nova espécie.
Justin Reynolds ligou então para o pesquisador Dean Lomax, da Universidade de Bristol, e para Paul de la Salle, um colecionador amador de fósseis. Juntos, eles conduziram novas escavações na praia de Blue Anchor. A equipe encontrou mais exemplares fósseis e pode confirmar não só que se tratava da mandíbula de um ictiossauro como também que ela pertencia a uma espécie totalmente nova do bicho.
“Ter dois exemplares do mesmo osso preservados com todas as mesmas características únicas, no mesmo fuso horário geológico, reforçou a identificação que já tínhamos imaginado antes: de que deve ser algo novo”, disse Lomax ao The New York Times. “Foi então que ficou realmente empolgante.”
A nova espécie, nomeada Ichthyotitan severnensis (o peixe lagarto gigante do Severn), foi descrita em um estudo publicado no periódico PLOS One. O pai Justin e a filha Ruby, agora agora com 15, foram coautores do artigo.
As estimativas dos pesquisadores sugerem que o Ichthyotitan poderia ter até 25 metros de comprimento – comparável a (e até maior que) uma baleia azul. Ele seria o maior réptil marinho conhecido até então e teria vivido pouco antes da extinção em massa que encerrou o Período Triássico.
Para Lomax, a descoberta não só é importante do ponto de vista paleontológico como também destaca a importância de amadores e cidadãos cientistas: “Se você tiver um olhar atento, se tiver paixão por algo assim, poderá fazer descobertas como essa”.
Para Ruby Reynolds, a paleontóloga mirim, também se trata de uma demonstração de força dos jovens no meio científico: “Quando encontrei o pedaço de osso de ictiossauro pela primeira vez, não percebi o quão importante ele era e aonde levaria. Acredito que o papel que os jovens podem desempenhar na ciência é aproveitar a jornada de exploração, pois nunca se sabe onde uma descoberta pode te levar.”
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