Apesar dos esforços por parte do Vaticano para desmistificar a ideia dos segredos do arquivo, a especulação continua sobre o seu conteúdo. O Arcebispo Sergio Pagano, responsável pela gestão do arquivo, vai reformar-se e lançou o livro “Secretum”, que desvenda algumas histórias da Igreja.
Responsável do arquivo do Vaticano vai reformar-se, mas (antes) desvenda alguns segredos
O Arcebispo Sergio Pagano, que trabalhou no arquivo do Vaticano durante 45 anos e tornou-se o seu responsável em 1997, anunciou recentemente a sua reforma, e com ela um livro com algumas das histórias da Igreja que gostava que o resto do mundo soubesse. “Secretum” é o resultado de conversas entre o Arcebispo e Massimo Franco, jornalista e autor italiano, que decorreram durante um ano.
Ainda que, em 2019, o Papa Francisco tenha rebatizado o Arquivo Secreto como “Arquivo Apostólico do Vaticano”, a verdade é que ainda existem vários mistérios por desvendar nos 85 quilómetros de arquivo da Igreja Católica que remontam até há 12 séculos.
O arquivo foi aberto pela primeira vez a historiadores em 1881 pelo Papa Leão XIII. Até esse momento, o arquivo servia exclusivamente para consulta do Papa e para preservar documentações dos vários papados, concílios, e escritórios do Vaticano desde o século XIII. É neste arquivo que existem registo que vão desde o saque de Napoleão até ao caso peculiar do conclave de 1922, financiado por doações de última hora de católicos americanos.
Ainda que exista todo um misticismo em torno deste arquivo, funciona como qualquer outro: os investigadores pedem permissão para o visitar, podendo consultar os documentos que pretendem em salas específicas de leitura. O Arcebispo Pagano, de 75 anos, observa-os atentamente a partir do seu escritório.
O Papa Francisco permitiu, em 2020, que investigadores e historiadores pudessem consultar documentos relacionados com o papado de Pio XII (que foi Papa durante a 2ª Guerra Mundial e que terá sido bastante criticado por não se ter manifestado sobre o Holocausto), pela curiosidade que a temática tem suscitado. Esta decisão de Francisco surge depois de o Vaticano ter defendido durante anos Pio XII, que afirmava que este não se tinha pronunciado sobre os crimes Nazis por medo de retaliação contra a Igreja Católica.
Pagano não é grande fã de Pio e apoia todos aqueles que queriam chamar a atenção para o seu silêncio.
“Durante a guerra, sabemos que o Papa Pio XII fez uma escolha: não podia nem iria falar. Estava convencido que um massacre pior estaria por acontecer”, indicou Pagano. “Depois da guerra, eu esperava algumas palavras sobre todas as pessoas que morreram em câmaras de gás”.
Pagano acrescenta ainda que o seu silêncio depois da guerra estava relacionado com a criação de um estado judaico. O Vaticano tem a longa tradição de apoiar palestinianos e estava preocupado com o futuro dos cristãos religiosos na Terra Santa se os territórios fossem entregues ao recém-criado Estado de Israel.
“Qualquer palavra que Pio tivesse dito depois do Holocausto poderia ter sido interpretada de uma forma política de apoio à fundação do novo Estado”, afirmou Pagano.
Além destas histórias mais antigas do Vaticano, o livro “Secretum” fala também de temas mais atuais, nomeadamente as origens das relações financeiras entre a Igreja Católica e os Estados Unidos, que remontam ao conclave de 1922, depois da morte de Bento XV.
Depois da morte do Papa, o cardeal responsável pelo tesouro e contas papais descobriu que o cofre estava “literalmente vazio”. Os conclaves eram subsidiados pelos cofres papais, e a Santa Sé ainda se estava a recompor de uma guerra que devastou a Europa.
Neste livro, reproduz-se pela primeira vez os telegramas encriptados onde o secretário de Estado do Vaticano pediu ao seu embaixador em Washington que enviasse tudo o que tivesse no seu cofre para que o conclave pudesse acontecer. De acordo com esses documentos, foram enviados para o Vaticano $210,400.09 (194,740.98 euros), permitindo que Pio XI fosse nomeado Papa nesse conclave.
No fim da entrevista a Franco, Pagano mostrou com vaidade alguns documentos do arquivo que tinha no seu escritório, nomeadamente a carta original de 1530 dos nobre britânicos que pediam ao Papa Clemente VII que anulasse o casamento do Rei Henrique VIII com Catarina de Aragão, para que se pudesse casar com Ana Bolena. Tal não aconteceu, e o Rei casou na mesma com Ana Bolena, rompendo ligação com a Igreja Católica.
“Podemos dizer que este foi o nascimento da Igreja Anglicana”, disse Pagano.
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