De deputada do Bloco a cabeça de lista do ADN, Joana Amaral Dias diz que "foi a esquerda que desistiu"

Joana Amaral Dias (Direitos Reservados)

O anúncio surgiu durante a tarde de terça-feira para espanto de muitos: Joana Amaral Dias é a cabeça de lista do ADN às eleições europeias de 9 de junho. A outrora jovem deputada do Bloco de Esquerda, que chegou a ser mandatária de Mário Soares às presidenciais de 2006, candidata pelo Nós Cidadãos à Câmara Municipal de Lisboa e candidata ás legislativas pela coligação AGIR (que juntou PTP e o MAS), surge agora como o nome principal da lista de um partido de direita. A própria explica, em entrevista à CNN Portugal, que “isto da esquerda e da direita está um bocadinho baralhado”: “Não sei o que é isso de esquerda e de direita, mais do que interessada na esquerda ou direita, estou interessada em lutar pelos direitos dos portugueses”.

“Nunca seria candidata do Chega”

Apesar deste aparente desvanecer do espectro que retrata, Joana Amaral Dias assegura que “nunca seria candidata do Chega”. A psicóloga explica que “não se revê nem nas ideias do Chega, na sua maior parte, nem na forma de fazer política do Chega”. “Há o poder ‘para’ e o poder ‘sobre'”, esclarece a candidata do ADN, realçando que “o poder ‘sobre’ é o poder para esmagar o outro, para vexar o outro, para encontrar ódios, para fomentar esses ódios contra aqueles que são diferentes ou estranhos e o poder ‘para’, é para transformar, para crescer ou para mudar”.

“Eu gosto mais de estar deste lado do poder ‘para’ transformar. Não acredito que seja a apascentar raivas que se crie coesão social, nem que se possa erguer um país assim”, explica.

Aos que a acusam de estar em busca de um “tacho político”, Joana Amaral Dias lembra que “tem uma vida confortável”: “Tenho a minha vida na comunicação social, na televisão, nos jornais, tenho a minha clínica de psicologia, que felizmente funciona muito bem. Portanto, tenho uma atividade, tenho sete livros publicados, uma vida profissional muito intensa, acho que aquilo que os portugueses me reconhecem é ser trabalhadora e defender os direitos dos cidadãos, lá está há muitos anos, independentemente de ser com o Bloco de Esquerda ou de ser com o ADN e esse é que é o ponto fundamental”.

“Os portugueses conhecem-me há tanto tempo da comunicação social, não acredito que ninguém bem-intencionado ache que eu preciso de ir para a Europa, para ter um trabalho, para ter um tacho ou ter o que quer que seja. No ADN ou noutro partido qualquer, aquilo que me move é efetivamente a defesa dos direitos de todos nós, que estão claramente ameaçados, da liberdade de expressão à liberdade de movimentação, passando pela nossa privacidade. Esses direitos estão ameaçados e acho que é necessário haver vozes que se ergam por eles”, refere.

“Não fui eu que mudei, foi a esquerda que desistiu”

Joana Amaral Dias recorda o início da vida política ao lado de Miguel Portas e Francisco Louçã e que acredita que foi “a esquerda que desistiu das suas bandeiras” do início do século: “Não fui eu que mudei, provavelmente foram essas pessoas que se esqueceram, que alteraram a sua conduta”.

Seja à esquerda ou à direita, a candidata do ADN garante que sempre defenderá que “a democracia, que é o regime do povo, pelo povo e para o povo” e critica a existência de instituições “supranacionais não eleitas” como a Comissão Europeia, o FMI ou o Banco Central Europeu “que se comportam como donos disto tudo e, às vezes, são mesmo donos disto tudo”: “O povo é que tem de mandar nos governos e nestas instituições e não o contrário, mas é o contrário que está a acontecer”.

“A nossa candidatura justamente pugna por isto mesmo, esta é provavelmente a nossa causa prioritária: devolver ao povo, aos cidadãos, aos eleitores, às populações, aos portugueses, justamente essa capacidade, essa voz. Eu quero ser essa voz no Parlamento Europeu”, diz.

ADN e Joana Amaral Dias: nem tudo são pontos de divergência

Quanto à convergência de pensamento com o ADN, Joana Amaral Dias cita “Teócrito, que dizia que as pessoas livres têm ideias e os escravos têm ideologias” para dizer: “Em termos de ideias, eu e o ADN temos muitas que são comuns, temos um chão que é de ambos e é por isso que este casamento faz sentido”, Joana Amaral Dias.

O partido de Bruno Fialho, no seu programa eleitoral, defende a reposição do Serviço Militar Obrigatório (SMO), é contra a legalização da eutanásia, entende que a interrupção voluntária da gravidez só deve ser apoiada financeiramente pelo SNS por motivos clínicos ou de saúde, é contra a mudança de sexo em qualquer cidadão com menos de 18 anos e contra a digitalização sem limites.

SERVIÇO MILITAR OBRIGATÓRIO

Joana Amaral Dias diz-se contra o regresso do SMO para a criação de um exército europeu: “Querem pôr os nossos filhos a combater as guerras alheias, as guerras estrangeiras, é completamente inadmissível. Não quero os meus filhos desventrados em Kiev ou em qualquer outro sítio”.

EUTANÁSIA

Sobre a eutanásia, garante que tem “dúvidas”: “Compreendo que possa haver sofrimento excruciante no final de vida para muitas pessoas, mas a verdade é que a experiência em muitos países tem sido de rampa deslizante em relação à eutanásia e tem havido muitas pessoas, inclusive crianças, que estão a ser eutanasiadas e isso não faz qualquer sentido”.

INTERRUPÇÃO VOLUNTÁRIA DA GRAVIDEZ

Quanto à interrupção voluntária da gravidez, Joana Amaral Dias lembra esforços antigos e prova que o modo de pensar se mantém: “Na interrupção voluntária da gravidez, devo dizer que defendo-a, continuo a defender, até às 10 semanas. Foi por isso que eu lutei sempre e em circunstâncias especiais, casos de violação, etc. E aqui o ADN não tem uma posição radicada”.

DIGITALIZAÇÃO

A “digitalização desenfreada” é outra das causas que une Joana Amaral Dias ao ADN: “É altamente promovida pela União Europeia e que faz com que as crianças sejam privadas da sua infância, colocadas à frente de ecrãs, sistematicamente, mesmo nas escolas, onde se promove provas digitais ou testes digitais. Mas em casa também, porque hoje em dia as crianças são escravas das escolas e os pais escravos do trabalho, e é mais fácil passar um tablet ou um telemóvel para a mão, mas isto tem consequências gravíssimas para as crianças e é uma política de Estado promovida diretamente pelo Estado português e pela União Europeia”.

MUDANÇA DE SEXO E DE NOME

Quanto à mudança de sexo, a candidata às europeias assegura que também está em concordância com o partido que agora representa: “Sou mulher, sou mãe, sou psicóloga, uma criança de três anos ainda está a aprender aquilo que são os limites do seu próprio corpo. A reconhecer aquilo que é o maior órgão humano, que é a sua própria pele e a diferenciação do outro. Esses conteúdos são completamente desadequados para crianças de três anos ou mesmo para crianças do 1.º ciclo. Nós nunca mudamos de sexo, porque uma pessoa que nasce XX, será sempre uma XX, uma pessoa que nasce XY, será sempre XY. Nós não podemos mudar de género.”

O compromisso de Joana Amaral Dias

Em tom de fecho, Joana Amaral Dias garante que assume, desde já, um compromisso com todos os eleitores caso seja eleita: “Todos os dias, mesmo todos os dias, reportar aos portugueses aquilo que está a acontecer no Parlamento Europeu”.

A agora candidata considera que é “incompreensível que os eurodeputados não o façam” e que “vejam [o Parlamento Europeu] como uma reforma dourada ou uma gaiola de luxo”. “É fácil pegar num telemóvel e, todos os dias, dizer: olhem, hoje estamos a votar isto aqui e assim”, explica Joana Amaral Dias, garantindo que “isto é importante”.

A candidatura será apresentada no dia 18 de abril, às 18:00, na Associação dos Deficientes das Forças Armadas, no Lumiar, Lisboa.

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