Jão
Oi, sou o Julian, da Galera CAPRICHO. Desde os meus 13 anos, comecei a pensar sobre a minha sexualidade. Foi um processo muito doloroso: eu não queria me aceitar e fingia ser alguém que eu estava longe de ser, além de não estar feliz. Com medo da rejeição e do preconceito, passei a ficar mais tempo dentro do quarto – o que me levou a ter mais tempo livre para me apegar ainda mais a cantores que eu já era muito fã, como foi o caso do Jão.
Em meio ao turbilhão de coisas passando pela minha cabeça e sem ainda ter certeza da minha sexualidade, uma música dele em específico me tocou muito: “Meninos e meninas”. A letra fala abertamente e de uma forma muito natural sobre gostar de ambos os gêneros. No mesmo período, também passei a ver algumas entrevistas do Jão em que ele falava sobre sua sexualidade, o que me ajudou muito.
Eu sei que não sou um caso isolado. Pessoas LGBTQIA+ se veem, muitas vezes, sozinhos em lugares mais conservadores e sem ter contato com outras pessoas da comunidade. Desse jeito fica difícil mesmo se enxergar em um futuro em que conseguirá obter sucesso sendo aberto em relação sua sexualidade e/ou identidade de gênero. É por isso que muitos de nós acabamos nos sentindo envergonhados por ser quem somos e ficamos desesperados tentando mudar algo que não pode ser mudado.
Felizmente, a sexualidade e identidade de gênero está começando a ser mais debatida em público, levando muitos artistas a se assumirem e falarem de sua vivência, como se descobriram e como se sentiram. Essas informações rodam a internet e chegam a jovens que têm passando pelo processo de descoberta, com um sentimento de acolhimento que muitos desconhecem. E, assim, pessoas, como eu, que se viam dentro de uma caixa com medo de ser quem são acabam tomando coragem para agarrar a liberdade e alegria de viver da maneira que se sentem bem.
Conversei com o carioca Enzo Araújo, de 16 anos, e ele contou que o Jão fez ele ter certeza do que ele sabia, mas encarar de outra maneira. “Ele
me fez levar a bissexualidade de forma leve e me fez entender que liberdade vale a pena”, diz.
A Brenda Almeida, de 17 anos e nascida em Curitiba, também encontrou acolhimento na música e nos seus ídolos. Ela diz que mesmo que muitos artistas não falem de suas vidas amorosas em público, demonstrar apoio é importante. “O Louis Tomlinson, por mais que não fale em público em relação a sexualidade, ele sempre fez questão de mostrar para os fãs que está tudo bem ser quem você é e fazer o que te faz feliz. Depois que lançou ”Walls”, eu fiquei viciada em “Only the brave” e essa música me faz pensar que o amor pode quebrar qualquer preconceito”, conta.
Não poderia concordar mais que a representatividade e apoio dos artistas fazem diferença no processo de se reconhecer no mundo, levando pessoas a se aceitarem e se amarem de formas menos dolorosas – principalmente para aqueles que dentro de casa, na escola ou no trabalho não podem ser abertos em relação a sua sexualidade e gênero.
Em 2023, comecei o meu processo de aceitação de quem eu era e parei de tentar fingir ser quem eu não sou. Ainda estou processando muita coisa, não é algo rápido de resolver, e por mais que eu tenha perdido pessoas, hoje estou muito mais feliz, me desprendi de algo que me machucava. Agora, vejo o quanto me sentia amarrado no fundo do mar, cada vez mais perdendo a força. Depois de entender esse peso enorme que me sufocava, minha ansiedade diminuiu e estou muito mais calmo, vivendo melhor.
O Jão me ajudou e me ajuda nesse processo desde o começo. Só tenho que agradecê-lo por ter me ajudado nessa fase tão difícil e dolorosa e por ter tornado tudo mais leve o possível.
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