Como a China se tornou o maior credor do mundo

Com objetivo de impulsionar comércio e ganhar influência, país emprestou US$ 1,3 trilhão para projetos de infraestrutura da Ásia à América Latina. Mas como Pequim pretende garantir o pagamento dessas dívidas?

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A China assinou um contrato de arrendamento por 99 anos do Porto Internacional de Hambantota, no Sri Lanka​

Por muitos considerada a peça central da política externa do líderXi Jinping, a Iniciativa do Cinturão e Rota (BRI, na sigla em inglês) da China apoia e frequentemente constrói cerca de 21 mil projetos de infraestrutura em todo o mundo.

De acordo com um novo relatório, foram mais de US$ 1,3 trilhão (cerca de R$ 6,3 trilhões) em empréstimos ao longo da última década para financiar a construção de pontes, portos e rodovias em países de baixa e média renda – algo que já rendeu comparações com o Plano Marshall dos EUA para a Europa após a Segunda Guerra Mundial.

Mas foi graças à restauração de antigas rotas comerciais entre a China e o resto do mundo que a BRI ficou conhecida como a Nova Rota da Seda. Ela também é creditada pelo aumento da influência global de Pequim, gerando preocupações em Washington e Bruxelas.

Já para os críticos, a BRI cobriu as nações em desenvolvimento de dívidas descontroladas e deixou uma enorme pegada de carbono num momento em que a proteção ambiental deveria ser prioridade. Alguns países, como as Filipinas, tiveram que inclusive abandonar projetos.

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No âmbito da BRI, a China emprestou ao Paquistão fundos para construir uma nova linha de metrô para Lahore

Outros apontaram para a estratégia chinesa de oferecer contratos às suas próprias empresas estatais para a construção de projetos de infraestrutura, muitas vezes levando a custos de construção opacos que os países mais tarde terão dificuldade em renegociar.

Embora a China tenha se comprometido a continuar investindo bilhões em novos projetos, o dia do acerto de contas chegou: a fatura dos últimos dez anos de muitos desses empréstimos acaba de vencer.

Quantos empréstimos da BRI estão inadimplentes?

Um relatório publicado no início deste mês pela AidData estima que 80% dos empréstimos concedidos pela China ao mundo em desenvolvimento são destinados a países em dificuldades financeiras. A empresa de investigação sediada nos EUA estimou que a dívida total pendente, excluindo juros, é de pelo menos US$ 1,1 trilhão.

Embora o relatório não forneça um número de quantos empréstimos estão inadimplentes, o documento constata um aumento no número de pagamentos atrasados. Os autores do levantamento também observaram que 1.693 projetos da BRI estão ameaçados, enquanto 94 deles foram cancelados ou suspensos.

A AidData calculou ainda que mais de metade dos empréstimos da BRI já entraram no seu período de reembolso do principal, numa altura em que as taxas de juro de base globais aumentaram acentuadamente, sobrecarregando as nações devedoras com uma carga de reembolso ainda maior.

​Os autores do relatório descobriram também que a China, em alguns casos, mais do que duplicou a taxa de juro como penalização por atrasos de pagamento, de 3% para 8,7%.

Na virada do século, quando Pequim começou a oferecer empréstimos aos países em desenvolvimento, menos de um quinto dos projetos eram colateralizados, em comparação com quase dois terços atualmente.

No início deste ano, um relatório do Banco Mundial concluiu a China já teve que distribuir bilhões em empréstimos de resgate aos países da BRI.

Segundo a AidData, o país estaria agora adotando uma nova estratégia para se livrar do risco de uma onda de insolvências, que inclui empréstimos de resgate que ajudam a reforçar as finanças dos governos aos quais emprestou e, muitas vezes, dos seus bancos centrais.

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A controversa barragem hidroelétrica de Lower Se San 2 Dam, no Camboja, foi construída com empréstimos chineses

Como os EUA e a Europa estão competindo com a China?

A AidData descobriu que, embora a China gaste cerca de US$ 80 bilhões de dólares anualmente em empréstimos a países de baixo e média renda, os Estados Unidos estão tentando recuperar o atraso.

Todos os anos, Washington gasta aproximadamente 60 bilhões de dólares em financiamentos semelhantes na área de desenvolvimento, em grande parte devido ao financiamento de projetos do setor privado pela Corporação Financeira de Desenvolvimento Internacional (DFC) dos EUA.

Um exemplo de financiamento americano são os planos de construção de um terminal de contêineres de águas profundas no porto de Colombo, no Sri Lanka, com um custo de meio bilhão de dólares, anunciados no início deste mês.

A nação insular do Oceano Índico tem enfrentado dificuldades para se recuperar de uma terrível crise financeira e econômica, e seu compromisso financeiro com empréstimos da BRI têm dificultado ainda mais os esforços para quitar suas dívidas.

Pequim emprestou dinheiro para construir o porto de Hambantota, na costa sudeste do Sri Lanka, além de um aeroporto e uma cidade em terrenos recuperados. Contudo, os projetos não são suficientemente rentáveis para pagar os empréstimos.

Há dois anos, os países do G7 lançaram a iniciativa “Reconstruir um mundo melhor” (Build Back Better World, ou B3W na sigla em inglês), outra tentativa dos Estados Unidos e seus aliados para contrabalançar a BRI.

No mês passado, a União Europeia realizou a primeira cúpula para o seu programa Global Gateway, que também é visto como uma alternativa à BRI e que busca manter a influência da Europa, particularmente no Sul Global.

Durante as negociações, foram assinados acordos no valor de quase 70 bilhões de euros com governos de toda a Europa, Ásia e África. O apoio da UE, que pode chegar a US$ 300 bilhões, ajudará projetos relacionados a minerais brutos críticos, energia verde e corredores de transporte.

Segundo a chefe da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, o Global Gateway dará aos países em desenvolvimento uma “melhor escolha” para financiar projetos de infraestrutura. Embora ela não tenha especificamente criticado a BRI, ela observou que outras opções de financiamento têm muitas vezes um “preço alto”.

Para a AidData, ainda que os EUA e seus aliados não consigam manter continuamente o mesmo nível de investimentos de Pequim, em parte devido a prometerem demais e serem incapazes de cumprir, o G7 gastou US$ 84 bilhões a mais que a China em 2021.

Em seu relatório, a AidData também alertou os EUA e seus aliados contra a tentativa de competir com a BRI, à medida que Pequim migra de projetos de construção em grande escala para a cobrança de dívidas.

Contudo, os autores do relatório afirmam que o fracasso de muitos projetos da BRI oferece uma oportunidade para atrair os países afetados, como o Sri Lanka, de volta à órbita do Ocidente.

Autor: Nik Martin

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