No dilúvio, um déjà vu, o desperdício e depois o acertar do timing

A chuva tornou o futebol numa atividade difícil de explanar no relvado do Municipal de Chaves e o Sporting ainda chegou a complicar, mas depois de várias oportunidades falhadas soube encontrar a eficácia. Vitória por 3-0 e liderança assegurada no final na 1.ª volta do campeonato

No dilúvio, um déjà vu, o desperdício e depois o acertar do timing

Há um jogo na época 2020/21 que pode muito bem ter sido essencial nesse Sporting campeão, anos e anos depois. Jogou-se na Choupana, o mais fustigado dos estádios portugueses pelas intempéries, depois de dias e dias de mau tempo, um dia depois da data original. O campo dificilmente se poderia chamar assim, o verde foi tornando-se cada vez mais tímido com o passar dos minutos, o castanho-terra tomou conta de tudo, até da cara dos jogadores. A vitória por 2-0 dos leões foi uma espécie de teste, de recruta para um desafio maior. Não se jogou bem, lutou-se muito. O Sporting seria campeão.

Tal como nessa noite em casa do Nacional, também este sábado, em Chaves, o Sporting jogou de branco. Pergunto-me se de propósito, para que as marcas da batalha ficassem mais visíveis. As condições do Municipal de Chaves eram brilhantes por comparação com essa noite também nos primeiros dias de janeiro na Madeira, mas ainda assim difíceis. Como que um pequeno déjà vu. E tal como nessa noite, o Sporting foi mais luta que filigrana, mais cabeça fria que talento. A vitória por 3-0 significa que a equipa de Rúben Amorim dá a volta ao calendário em 1.º lugar.

O Sporting soube simplificar um encontro em que as condições climatéricas poderiam ter um papel decisivo. Viu-se na chuva inclemente, nas bolas que não viajavam tanto quanto os jogadores queriam, presas na terra que ia saltando. Mas a simplificação, ou adaptação, teve de acontecer a quente, em pleno jogo. Até ao final da 1.ª parte, quando Paulinho marcou o primeiro num lance de grande confusão na área flaviense, o desperdício foi enorme. Más notícias para os leões num campo que não iria permitir essas veleidades de falhar golos feitos.

Depois de um primeiro lance de aproximação que até pertenceu ao Chaves, o festival de falhanços leoninos começou com um cabeceamento de Gyökeres aos 11’. Hugo Souza, decisivo, defendeu o remate do sueco e também a recarga de Esgaio. Na jogada seguinte, Sandro Cruz falhou o corte e Gyökeres, de novo, nem à primeira nem à segunda conseguiu passar pelo muro Hugo Souza. A seguir seria Paulinho, a cabecear para mais uma defesa impossível de Hugo Souza, num lance em que acabaria por ser marcado fora de jogo.

Ainda mais dessincronizado pareceu Pote, a rematar centímetros ao lado aos 20’ num daqueles remates/passes para a baliza que o português bem que poderia patentear e depois, completamente isolado, a permitir a defesa de Hugo Souza (de novo), num lance em que o relvado traiu o atraso de João Correia.

O golo de Paulinho, aos 44’, terminaria com este desencontro do Sporting com o golo.

Até porque a 2.ª parte começou praticamente com um grande golo de Trincão, um daqueles que parecem impossíveis de deslindar num terreno tão acidentado: o cruzamento foi de Nuno Santos e o avançado de português rematou de primeira, com o seu finíssimo pé esquerdo, num gesto técnico admirável. Quatro minutos depois, Pote terminaria também a sua pequena miséria pessoal, com mais um remate/passe para a baliza que desta vez teria a ajuda de um toque rival. Com 3-0 aos 56 minutos, o jogo ficou mais que definido, com o Sporting a acertar um timing que, por momentos, parecia estar a fugir.

Até porque, fora um par de incursões na 1.ª parte, viu-se muito pouco de um Chaves cujo único condão terá sido conseguir anular Viktor Gyökeres, sempre na luta, sempre a tentar, mas desta vez algo atrapalhado no relvado flaviense disfarçado de piscina. Depois do 3-0, o Sporting limitou-se a controlar, a assegurar um bem precioso: acabar a 1.ª volta como líder. Não foi bonito, mas foi competente.