Imagens de satélite publicadas por um centro de pesquisa americano mostram expansão de base do Exército na fronteira com o Essequibo, após acordo em que Venezuela aceitava resolver disputa territorial pelo diálogo.
A Venezuela reivindica o Essequibo, região da Guiana, em disputa territorial que vem desde o século 19
A Guiana se disse preocupada com a movimentação de tropas e armas venezuelanas próximo à região do Essequibo, área rica em recursos naturais reclamada pelo regime de Caracas, após imagens de satélite publicadas nesta sexta-feira (09/02) por um centro de pesquisa dos Estados Unidos revelarem a movimentação das tropas do presidente Nicolás Maduro na fronteira.
Ainda segundo o relatório, publicado pelo Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais (CSIS) em Washington, a Venezuela está expandindo uma base militar na região, contrariando acordo firmado em dezembro do ano passado em que se comprometia a resolver a disputa territorial pelo diálogo, em vez da força.
O acordo havia sido firmado poucos dias após Caracas aprovar a anexação do Essequibo – que corresponde a mais de dois terços do território da Guiana – em um controverso referendo popular, realizado após a emissão, pela Guiana, de licenças à iniciativa privada para a exploração de petróleo na costa da região.
Desde então, as tensões na região vinham sendo atenuadas.
“No mesmo dia em que o ministro das Relações Exteriores venezuelano se encontra com diplomatas guianenses, o Exército venezuelano realiza exercícios com tanques a poucos metros de distância da Guiana. Tudo isso nos diz que Maduro está perseguindo uma política dúbia”, afirma o diretor interino do programa para as Américas do CSIS, Christopher Hernandez-Roy, referindo-se a uma reunião realizada no dia 25 de janeiro entre as duas partes em Brasília, sob a mediação do ministro do Itamaraty, Mauro Vieira.
Nas imagens de satélite do relatório do CSIS, é possível ver clareiras abertas na mata da ilha de Anacoco – que pertenceu à Guiana de 1899 até 1966, quando foi tomada pela Venezuela, e que é separada do Essequibo por um rio –, além de material de construção, armazéns e embarcações.
Ainda segundo o instituto, vídeos compartilhados por autoridades e militares venezuelanos entre 24 e 25 de janeiro mostram um exercício em Anacoco, bem como a presença de arsenais militares como blindados e aeronaves.
No início deste mês, o Exército brasileiro enviou 28 blindados a Roraima para reforçar a segurança na fronteira com Venezuela e Guiana. Dois dias depois, um enviado americano anunciou em visita à Guiana o estreitamento de cooperações bilaterais na área de defesa para preservar as fronteiras do país.
Disputa antiga
A disputa pelo Essequibo vem desde o século 19, mas se intensificou a partir de 2015, com a descoberta de grandes reservas de petróleo na costa da região pela americana ExxonMobil – equivalente, segundo estimativas, a cerca de 75% da reserva brasileira de petróleo. Na última terça, a empresa anunciou a perfuração de dois poços nas águas do Essequibo.
Temendo uma ação militar de Caracas, Georgetown acionou no final do ano passado a Corte Internacional de Justiça (ICJ), em Haia. O mais alto tribunal das Nações Unidas deve levar vários anos analisando o caso até decidir a quem pertence o território, mas determinou liminarmente a Caracas que se abstenha de interferir no atual status do Essequibo até lá.
Maduro, porém, não reconhece a autoridade do ICJ para arbitrar a disputa e quer negociar diretamente com a Guiana. Alguns analistas veem na movimentação uma estratégia do presidente venezuelano para mobilizar seu eleitorado, enquanto outros apontam que isso pode ser também uma tentativa de pressionar a Guiana a partilhar os ganhos com a exploração do petróleo.
Ao comentar o relatório do think tank americano em entrevista à agência de notícias AFP, o ministro das Relações Exteriores da Guiana, Hugh Todd, disse que a movimentação militar de Caracas na fronteira é uma tentativa de forçar a Guiana a abandonar o julgamento sobre o Essequibo na ICJ e “aceitar a abordagem preferida pela Venezuela de negociações bilaterais”.
ra (AFP, ots)
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