No dia em que recebeu a carta da empregada da avó, Montenegro bateu Tino de Rans no mercado e afastou-se da máquina partidária. “Hoje o PSD e o CDS estão em minoria”

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Montenegro – campanha

Por uma questão de minutos, Luís Montenegro não deu conta do Blitzkrieg lançado por Tino de Rans ao mercado de Amarante, onde o líder social-democrata tinha uma ação de campanha planeada durante a manhã. “A feira chega para todos”, o candidato do RiR chegou meia-hora antes da comitiva da Aliança Democrática encher o recinto, e, carregado com um cesto, anunciou que trazia “brindes consigo”: pedras da calçada autografadas por si, que distribuiu a três vendedores de legumes e frutas. Enquanto isso, enchia os pulmões de ar e dizia a quem o ouvia que ele, Tino, não é “hipotecável” e que será a voz do povo. “O povo vai chegar ao Parlamento livre, sem estar hipotecado a ninguém”.

Consigo trazia uma comitiva de dois bandeirantes que, a dada altura, desataram a correr com o candidato rua acima. “Eu quero, mas quem não vai esperar pelo Tino é ele”, disse, avaliando um possível encontro que eventualmente desistiu, ao mesmo tempo que se erguia num muro com vista para o mercado, munido de duas pedras na calçada em cada mão e com um argumento fixo. “Eu sou do povo, não sou como os outros!”.

Quase tudo separa Tino de Rans de Luís Montenegro. O tamanho da ação de campanha, a proximidade como as pessoas o abordam e as gargalhadas que provocou aos comerciantes naquele mercado. Mas a mensagem que tentava passar, a todo o fôlego, enquanto um ecrã colado a uma carrinha sua abafava as primeiras cantigas de apoio à Aliança Democrática, acabou por ter algumas semelhanças com o autorretrato que, nos últimos dias, Montenegro tem tentado pintar.

 

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Montenegro visita mercado de Amarante/ LUSA

É o próprio Hugo Soares, secretário-geral do PSD, a reconhecer isso mesmo. “O Luís é um de nós, é como qualquer outro português”, anunciou durante a tarde num comício em Braga. Dando força, precisamente, a um dos ataques mais repetidos por Montenegro em quase todas as ações de campanha durante a última semana: “o Partido Socialista deixa o Estado todo partido e o partido todo no Estado” em oposição ao candidato da AD que tem repetido ao longo da campanha que “só utiliza o partido como meio para chegar ao Governo e daí poder mudar a vida das pessoas”.

Para sustentar essa figura, Montenegro tem vindo a tentar, por muitas vezes, distanciar-se da noção de que faz parte de um partido político, mas antes de um movimento que prefere as figuras independentes e reconhecidas da sociedade civil por vezes àqueles que emergem da máquina partidária. Tem demonstrado isso, vinculando-se praticamente todos os dias a uma rejeição aos comentários e críticas feitas pelo PS e por Pedro Nuno Santos, que, para ele, não passam de “intriga dos partidos políticos que se preocupam mais a falar entre eles e para si próprios do que a falar do povo”.

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Montenegro no comboio a caminho de um encontro com jovens em Famalicão. Fotografia de André Lico

“Temos pena”, disse aliás, durante um almoço-comício na Trofa esta tarde, que juntou cerca de 3 mil pessoas e que teve Rui Moreira, independente, como figura principal. “Os militantes do PSD e do CDS-PP, hoje estão em minoria nesta sala, mas isso é um bom sinal. É um sinal que não estamos fechados, estamos abertos à sociedade, abertos para falar com as pessoas e para resolver os problemas que enfrentam”.

O politólogo José Filipe Pinto garante que esta estratégia é essencial para conseguir os votos dos indecisos e dos eleitores do centro e nota que o próprio discurso do candidato está a mudar: “Se repararmos na evolução do discurso de Luís Montenegro, notamos que as frases são cada vez mais curtas e fáceis, e têm um estilo direto marcado por assertividade”, sublinha, destacando que o atual presidente do PSD está a beber dos ensinamentos de Cavaco Silva. “Está a criar uma imagem de autenticidade e de segurança, apontando para uma ideia de ser uma pessoa afável e compreensiva, sem que entre num regime demasiado popularucho”.

José Filipe Pinto refere que esta ideia de revisitação cavaquista só é possível porque Luís Montenegro acaba por ter dentro da sua base de apoio quem suje as mãos no combate político por ele. Para além de Passos Coelho que, “com o seu discurso sobre imigração e segurança, acabou por ajudar a estancar a migração de votos do PSD para o Chega”, tem também Nuno Melo que tem aderido muito mais à frente de combate contra Pedro Nuno Santos, Mariana Mortágua e André Ventura, com “uma linguagem mais popular, combativa e terra a terra”.

No mercado que visitou este sábado, em Amarante, esta imagem de Montenegro parece estar a colar junto dos eleitores. A mesma comerciante que aplaudiu e sorriu a Tino de Rans quando este disse que só ele quer saber dos problemas do povo, referiu, minutos depois, que o seu voto está fixo na Aliança Democrática. “Acho que faz muito bem em afastar-se do discurso dos partidos, porque nós precisamos de mudança”, diz Maria do Carmo, 69 anos apontando para os tomates que tem para vender.

Nessa visita, Montenegro acabou por ter uma surpresa. Paulo Vasconcelos, 55 anos esperou que o candidato descesse as escadas do mercado para lhe entregar em mãos uma carta de Rosário, uma mulher de 102 anos que foi empregada durante nove anos da avó materna de Montenegro, que vivia em São Gonçalo. “Foi tratada como se fosse filha por esses avós de Montenegro e quando ouviu falar do nome do candidato, foi acompanhando a história e escreveu-lhe sobre a gratidão que ainda hoje tem porque foi tratada como se fosse família numa altura, nos anos 30, em que os patrões eram severos”, contou à CNN Portugal.

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Luís Montenegro durante um almoço-comício na Trofa/ Lusa

 

Luís Filipe Menezes e Rui Moreira. Os trunfos de Montenegro no dia de António Costa

No mesmo dia em que António Costa entrou para a campanha de Pedro Nuno Santos, a Aliança Democrática trouxe a si o presidente da Câmara Municipal do Porto, Rui Moreira e o antigo líder do PSD, Luís Filipe Menezes.

Rui Moreira, independente e amigo próximo de Montenegro, discursou num almoço-comício na Trofa em que pediu mais incentivos às empresas e ao privado. “É preciso desligar o complicómetro”, declarou, apelando a um Estado com menos burocracia e ideologia. Já Menezes disse que trazer Costa para a campanha foi uma “tentativa desesperada de branquear o falhanço”.

“O Estado está enterrado na ideologia, na fobia do mérito”, criticou Moreira. “Quando alguma coisa funciona mal, cria-se um instituto um observatório, um gabinete, é sempre assim”. O autarca virou-se depois para a classe média destacando que não pode ser ela a “sustentar o estado social com os seus impostos, sendo que depois não beneficia deles”.

Já Luís Filipe Menezes foi mais combativo e atirou-se imediatamente a Pedro Nuno Santos, durante o comício em Braga. discurso improvisado, criticou o líder socialista por se “comparar a Cavaco Silva” depois de este ter criticado um artigo que o ex-primeiro-ministro escreveu para o Correio da Manhã em que acusou Pedro Nuno de “não cumprir minimamente os requisitos” para chegar ao Governo. “Sei que o líder do PS adora automóveis de luxo, mas comparar-se com Cavaco Silva é comparar um Ferrari com um Calhambeque encostado na garagem”.

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