Miguel Cardoso e as agressões na Turquia: «Não representam o país, foi uma vergonha»

miguel cardoso e as agressões na turquia: «não representam o país, foi uma vergonha»

Miguel Cardoso e as agressões na Turquia: «Não representam o país, foi uma vergonha»

O futebol é imprevisível. Que o diga Miguel Cardoso. Num suspiro, está a atuar para escassos espectadores no Campeonato Distrital, e noutro, pisa o relvado de um dos maiores palcos do desporto-rei: o Camp Nou, sob os holofotes do puro desconhecimento. Múltiplas paragens em estações estrangeiras, num verdadeiro interrail desportivo, cujo próximo destino é sempre desconhecido à priori. O atual paradeiro é Kayseri, na Turquia, país onde tem causado furor, fruto da sua apurada capacidade técnica.

[Veja a primeira parte da entrevista aqui]

PARTE II

zerozero – No entanto, as restantes oportunidades no Deportivo acabam por ser escassas. A decisão de sair foi sua ou da direção?

Miguel Cardoso – Foi da parte da direção. Era algo que já estava, mais ou menos, estabelecido. O meu primeiro jogo até foi para a Taça, em que acabei por ser considerado o melhor em campo. Fui começando a ter mais minutos, mas a opção do treinador e dos responsáveis passou por me emprestar, para somar mais minutos e ganhar experiência. O objetivo era depois voltar e continuar a minha carreira no Deportivo, mas não foi isso que aconteceu, com muita pena minha. É assim a vida, é assim o futebol… não acho que tenha sido uma boa opção na altura.

zz – Depois de um empréstimo ao União da Madeira, seguiu para o CD Tondela, onde trabalhou às ordens de Petit e Pepa. Foram treinadores importantes no seu desenvolvimento? Sentiu diferenças nos mecanismos de trabalho de cada um?

MC – Ao sair de Espanha, tomamos a opção de ir para o União da Madeira, que acabou por não ser acertada. Infelizmente, chegamos a descer de divisão e eu não somei os minutos que desejava. Entretanto, ingressei no CD Tondela, comandado pelo Petit. Gostei muito de trabalhar com ele, até porque já convivemos juntos mais do que uma vez. Temos uma muito boa relação, uma pessoa cinco estrelas. O Pepa também me marcou muito, numa altura em que eu precisava de dar o salto. Fizemos a melhor temporada do CD Tondela na primeira divisão. Desejo tudo de bom aos dois.

zz – Estava à espera que ambos os técnicos alcançassem o sucesso que vieram a ter?

MC – O Pepa fica mais um ano em Tondela. Depois vai para o Paços de Ferreira e leva a equipa às competições europeias. O mister Petit, na minha opinião, pelo trabalho que tem vindo a fazer, merece outros patamares, comparativamente com os projetos onde luta para não descer. Ele fez um excelente trabalho na B SAD e merece ser valorizado. São técnicos que fomentam muito a união do grupo. Quando se tem um coletivo forte, os resultados vêm por acréscimo.

miguel cardoso e as agressões na turquia: «não representam o país, foi uma vergonha»
@Kapta+

zz – Revelou que gostava de ver o mister Petit noutros voos. Em algum conjunto em concreto?

MC – Gostava de o ver fora de Portugal. Por exemplo, acho que o campeonato aqui da Turquia seria muito interessante. É muito competitivo, muito equilibrado. Qualquer equipa pode ganhar em qualquer campo. Em Portugal, podia estar num clube com outras ambições, talvez nas competições europeias, mas é um núcleo muito restrito.

zz – O futebol russo acaba por ser a experiência que se sucedeu, por intermédio Dínamo Moscovo e o Tambov. Foi rápida a adaptação às baixas temperaturas e a um estilo de jogo diferente?

MC – Foi a adaptação mais difícil. Lembro-me que nos primeiros três, quatro meses, até à paragem de inverno, a diferença foi muito grande. Uma realidade totalmente diferente a nível linguístico e cultural. Contudo, gostei muito e posso mesmo dizer que me identifico com a maneira de estar. É um povo muito sério, frio. Tive pena de não continuar, mas, por inúmeras circunstâncias, acabei por só fazer duas épocas. Tomaria a mesma decisão por dez vezes.

zz – A Rússia corresponde ao teu momento mais vantajoso a nível salarial?

MC – Não era a minha prioridade nesse verão, porque queria voltar a Espanha ou ingressar num campeonato europeu com maior visibilidade. Contudo, o único clube que deu condições ao CD Tondela e a mim para ser concretizada uma transferência foi o Dynamo Moskva, numa fase mais avançada do mercado. Acabou por ser uma excelente opção para mim, em todos os sentidos. É um clube enorme na Rússia.

zz – Em 2020/21, apresentou a sua época mais goleadora, ao serviço da B SAD, com nove golos. Que fatores levaram a este período mais certeiro?

MC – Eu vinha de um período difícil. Voltei a Portugal por culpa da COVID-19. Eu, na segunda época de Dynamo, acabo por ser cedido ao Tambov para fazer os últimos dez jogos na liga. No entanto, acabo só por fazer uma partida, uma vez que fechou tudo. Fiquei cinco meses sozinho em Moscovo e, como tal, precisava de voltar para a beira dos meus. Regressei com muita fome de bola. Precisava de voltar a somar minutos e a sentir-me feliz, que foi algo que perdi durante esse tempo sozinho. Acabou por ser uma temporada excelente, a todos os níveis. No que toca ao individual, também alcancei bons números. No prisma pessoal, foi a melhor decisão que tomei até hoje.

zz – A B SAD, através de problemas burocráticos, desceu até ao futebol distrital. Ficou triste por ver o rumo dos acontecimentos?

MC – Fiquei bastante triste, porque vivi lá um ano muito especial. Criamos uma família durante esse período. Existiam muitas pessoas que faziam um esforço enorme, diariamente, para manter o clube de pé, visto que enfrentamos muitas adversidades. Gostava muito que se tivessem mantido nas ligas profissionais.

zz – A mais recente aventura é agora na Turquia, representando o Kayserispor. O quão importante foram os portugueses Manuel Fernandes e Carlos Mané na ambientação à nova realidade?

Kayserispor Portekizli oyuncu Miguel Cardoso’yı renklerine bağladı.#Kayserispor ▶https://t.co/6G9chFjZxP pic.twitter.com/yD8XUwFsst

— Kayserispor (@kayserispor) August 2, 2021

MC – É sempre importante ter portugueses connosco, especialmente para a vida extra futebol. O Manuel Fernandes já cá estava e ajudou-me bastante. Infelizmente, acabou por sair a meio da minha primeira época. Já o Carlos Mané chegou ao mesmo tempo que eu e, curiosamente, temos um contrato com a mesma duração [risos]. É o meu companheiro nesta passagem. Somos o suporte um do outro, porque damo-nos bastante bem, as famílias também se dão bastante bem.

zz – Estas relações interpessoais são muito importantes no rendimento dos próprios atletas…

MC – Sim, nós não nos podemos manter à margem. Claro que o principal objetivo é ter rendimento desportivo, mas para isso também precisamos de ter uma vida pessoal saudável.

zz – Nestas três temporadas na formação Kayseri tem sido um dos jogadores mais influentes do campeonato, numa equipa com algumas debilidades do ponto de vista ofensivo. O que tem feito para pegar de estaca no clube?

MC – As coisas têm corrido muito bem, felizmente. Os números estão aparecer naturalmente e sinto que tenho tido uma grande preponderância na equipa. Temos feito épocas boas relativamente às expectativas do clube. Quando cá cheguei, o emblema estava a passar por muitas dificuldades, a lutar para não descer de divisão, mas nestes últimos anos fizemos campeonatos tranquilos. Conseguimos mesmo chegar à final da Taça, que infelizmente acabamos por perder. Esta última vitória deu-nos mais tranquilidade, mas ainda falta muito campeonato para jogar. Estou confiante que vamos subir lugares na tabela.

zz – Quais são os objetivos propostos para serem atingidos até ao final da presente temporada?

MC – A nível coletivo, o objetivo passa por continuar a fazer uma campanha calma. Tivemos grande parte da época no terceiro lugar, mas depois, em janeiro, perdemos jogadores preponderantes, muitos deles titulares. Jogávamos de três em três dias e acabamos por ter algumas lesões, atletas no CAN ou na Taça Asiática, mas agora vamos recuperar. A nível individual, quero jogar muito e ter o máximo de importância na equipa.

«Foi um comportamento deplorável. Um episódio que não representa o país»

zz – O futebol turco ficou marcado negativamente pela agressão do ex-presidente do Ankaragücü a um árbitro. Qual foi o seu estado de espírito ao acompanhar de perto as repercussões desta situação?

MC – Foi um comportamento deplorável. Nada justifica violência. Na minha opinião, foi bem castigado. Já não está inserido no mundo do futebol, porque este tipo de atitudes não merecem fazer parte do desporto. Contudo, é um episódio que não representa o país, o povo turco. Falar da Turquia por uma situação destas não é justo. Vimos isto como uma vergonha.

zz – Na próxima época, o objetivo passa por continuar no clube ou por uma mudança de ares?

MC – É cedo para pensar no que vai acontecer no verão. Ainda faltam 12 jogos para o final da época. O contrato está a acabar e o meu objetivo é jogar até ao fim, ajudando a equipa a concretizar os seus objetivos.

zz – Algum campeonato que gostaria ainda de vivenciar?

MC – Tendo passado pela Rússia e pela Turquia, dá vontade de aprender mais, de conhecer mais, apesar de eu não ter a mentalidade de emigrante. Não consigo dizer um campeonato em específico.

zz – Por fim, quais são as marcas individuais que ainda espera alcançar?

MC – Nem sequer penso nisso [risos], ainda que gostasse de terminar a carreira em Portugal. É o meu país e é o sítio onde eu gostava de dizer ‘adeus’ à modalidade. Porém, penso ainda em jogar durante muitos anos, porque me sinto muito bem. Quero continuar a sentir-me feliz até lá, seja aonde for.

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