Rafa Mujica, avançado do Arouca, tornou-se no espanhol com mais golos numa só edição do campeonato. No entanto, é Victoriano “Picho” Suárez, o jogador do país vizinho que, no geral, mais marcou em Portugal. Proveniente da Galiza, fez carreira no SC Covilhã, equipa que levou à final da Taça de Portugal e com a qual conseguiu a melhor prestação de sempre na Primeira Liga
Victoriano ‘Pincho’ Suárez é o jogador que tem a bola no meio dos companheiros do Sporting da Covilhã.
O repositório da Biblioteca Digital da Galiza mantém viva uma página relativa à edição de 3 de agosto de 1961 do “El Pueblo Gallego”. A publicação bateu com o nariz na porta dos anos 80. Antes, levou aos seus leitores uma entrevista com Victoriano “Picho” Suárez. A imagem que acompanha as respostas é do antigo jogador equipado com a Cruz de Cristo, que serve de símbolo ao Belenenses, e calções que fariam um observador contemporâneo pensar que se estava a falar de um praticante de râguebi. A legenda ajudava a descodificar: “Picho com a camiseta do Belenenses quando já era uma figura del fútbol portugués.”
A passagem no Restelo, para jogar ao lado de Matateu, não foi só para a fotografia. Entre meados da década de 50 e início da década de 60, quando os jogadores estrangeiros eram uma exceção, ‘Picho’ Suaréz conquistou o seu espaço em Portugal. Não propriamente no Belenenses, onde só esteve uma época, mas sim no Sporting da Covilhã, clube que mais contribuiu para que ainda seja o espanhol com mais golos no campeonato português (77, de acordo com a agência Lusa).
Correr é sempre mais fácil quando se consegue ter olhos sobre a meta. Daí que as mais de sete dezenas de golos de ‘Picho’ Suárez possam ser um objetivo tão ambicioso quanto interessante para Rafa Mujica. Com o bis frente ao SC Braga, na jornada 28 do campeonato, o avançado do Arouca tornou-se o espanhol com mais golos numa só edição do campeonato (18 e a contar), ultrapassando os 17 de Fran Navarro, que se destacou ao serviço do Gil Vicente antes de assinar contrato com o FC Porto. Ao nível dos melhores goleadores espanhóis de todos os tempos, Mujica ainda tem pela frente nomes como Rodrigo Moreno, Toni Martínez ou Fran Navarro.
E a lenda da Beira Baixa.
Em 1955/56, ‘Picho’ Suárez foi parar a um SC Covilhã nos píncaros do futebol nacional. Além de estar na Primeira Liga, um ano depois da chegada do espanhol a região acabaria por estar representada na final da Taça de Portugal. Nessa campanha, o galego marcou 15 golos, o melhor registo na história da competição que tinha começado a ser disputada em 1938/39. Mais tarde, acabou por ser superado por exemplos como o de Eusébio que, em 1968/69, marcou 18 golos numa só edição da Prova Rainha.
Embora, nos dias que correm, os serranos estejam mergulhados na Liga 3, a glória em meados do século XX não foi apagada. João de Jesus Nunes recorda-a no livro “Figuras e Factos do Sporting Clube da Covilhã” (1993). À Tribuna Expresso, o autor conta que “eram centenas de autocarros e comboios especiais” que chegavam à cidade plantada no sopé da Serra da Estrela quando clubes como o Benfica e o Sporting (Clube de Portugal) visitavam o Estádio José dos Santos Pinto. “Era o único meio de diversão ao domingo.”
Picho Suárez, de fato cinzento e gravata castanha, com João de Jesus Nunes, o elemento mais à direita, nas Bodas de Diamante do SC Covilhã
O investimento da indústria têxtil no clube permitiu a contratação do galego Victoriano Suárez para substituir o francês André Simonyi, referências nos leões da serra até então. No livro de João de Jesus Nunes, ‘Picho’ Suárez diz que “com quinze anos já tinha quase a corpulência” de um adulto e que, “certa vez, num campeonato da Frente de Juventude (um organismo similar à nossa Mocidade Portuguesa), foi um escândalo, andar de calções e pernas peludas ao léu”.
João diz que entre os “gaiatos ninguém sabe” quem foi ‘Picho’ Suárez, a estrela da equipa comandada pelo húngaro János Szábo que, em 1955/56, conseguiu a melhor prestação de sempre dos leões da serra (5.º lugar). As experiências mais sérias de Victoriano no futebol começaram sob a alçada do Celta de Vigo. De empréstimo em empréstimo, acabou por se desvincular do emblema da Galiza.
Antes de rumar a Portugal, estava no Hércules de Alicante. Além do SC Covilhã, representou também o Belenenses, os setubalenses do Vitória FC e o Salgueiros. A carreira como treinador começou em Beja e teve um modesto seguimento em Espanha, nos escalões inferiores.
Foi para o Brasil, onde acabaria por falecer em janeiro de 2015 devido a uma doença oncológica, graças à força do amor e seduzido por uma mulher brasileira chamada Nelma. Como a vida não lhe permitiu apenas jogar peladinhas em Guaruta, na casa do amigo Pelé, juntou-se a um negócio de casas noturnas, tal como relata no livro. Os golos foram a sua maior fortuna e compraram-lhe um lugar na história do futebol português.
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