A pandemia de covid-19 foi apenas um exemplo de como doenças podem afetar o mundo inteiro de uma vez só. Entre 33 milhões e 15 milhões de anos atrás, um antigo grupo de vírus espalhou-se por inúmeros mamíferos e fez um estrago significativo — desaparecendo há aproximadamente 15 milhões de anos.
Estudos indicam que esse vírus teria infectado todos os hospedeiros que conseguiu e que fragmentos inativos dele ainda vivem sorrateiramente no DNA de muitos mamíferos modernos, inclusive no dos seres humanos.
Desastre pandêmico
Avaliar como funcionam os retrovírus endógenos poderia ajudar a humanidade a abordar doenças modernas. (Fonte: Getty Images)
Por mais esquisito que seja imaginar esse cenário, cerca de 8% do DNA humano é formado por sequências genéticas de retrovírus que infectaram os nossos antepassados há milhões de anos. Isso inclui até mesmo alguns retrovírus modernos como o HIV, que precisa inserir uma cópia de DNA do seu genoma RNA no DNA de uma célula hospedeira para se replicar.
Esse material genético não costuma ser transmitido de geração em geração, mas isso pode acontecer caso os retrovírus ganhem a capacidade de infectar células germinativas — como óvulos ou espermatozoides. Se um retrovírus chega nesse estágio, ele pode eventualmente ser incorporado ao genoma de uma população inteira.
O caso mais conhecido disso é o do ERV-Fc, um retrovírus que se espalhou pelo mundo na época do Oligoceno até o Mioceno Inferior. Portanto, esse foi um vírus que circulou pelo mundo entre 33 milhões e 15 milhões de anos atrás. Em 2016, pesquisadores encontraram “fósseis” com restos virais do ERV-Fc presente nos ancestrais de pelo menos 28 mamíferos modernos, incluindo chimpanzés, humanos, cachorros e pandas.
Estudando o passado, prevenindo o futuro
Pessoas usando máscaras de proteção contra doenças respiratórias. (Fonte: Getty Images)
Conforme os dados científicos, o mais impressionante sobre a família de retrovírus ERV-Fc é que ela não infectou apenas um parente de todos os mamíferos de uma única vez, mas também saltou mais de 20 vezes entre espécies. Esse fenômeno acabou gerando uma espécie de pandemia intercontinental pré-histórica, atingindo mamíferos em todos os continentes — exceto em áreas remotas da Austrália e da Antártida.
O ERV-Fc aparentemente não tem qualquer impacto na saúde humana atualmente, mas isso não significa que ele tenha desaparecido. Estudos mostram que um fragmento de seu material genético simplesmente permanece adormecido em nosso genoma até hoje. Porém, pesquisadores também acreditam que uma compreensão aprofundada sobre outros retrovírus endógenos poderia ajudar a humanidade a descobrir novos métodos para abordarmos doenças como a HIV.
“Os genomas dos mamíferos contêm centenas de milhares de fósseis virais antigos semelhantes ao ERV-Fc”, destacou William E. Diehl, autor do estudo de 2016, conduzido enquanto ele era pesquisador de pós-doutorado no Boston College, em comunicado oficial. Segundo Diehl, o maior desafio no momento é usar as sequências virais antigas para remontar o passado do nosso planeta.
O cientista acredita que medidas do tipo podem ser úteis para prever as consequências de novas infecções virais emergentes a longo prazo. Sendo assim, tal método nos permitirá entender melhor quando e por que surgem novos vírus, bem como compreender a maneira como o contato de longo prazo com eles impacta a evolução dos organismos hospedeiros.
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