Quem é o líder do Hamas Yahya Sinwar?

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Yahya Sinwar em registro feito em 2022

Yahya Sinwar desapareceu. Não é surpresa que milhares de soldados israelenses, apoiados por drones, dispositivos electrônicos de escuta e informantes humanos, estejam tentando descobrir o seu paradeiro.

Sinwar, que tem cabelos brancos como a neve e sobrancelhas negras, é o líder do braço político do Hamas em Gaza e um dos homens mais procurados por Israel.

Ele é considerado o responsável, junto com outros aliados, pelo ataque de 7 de outubro ao sul de Israel, no qual cerca de 1.200 pessoas foram mortas e mais de 200 foram raptadas.

“Yahya Sinwar é o comandante… e ele é um homem morto”, declarou o porta-voz das Forças de Defesa de Israel (FDI), Daniel Hagari, no início de outubro.

“Este ataque abominável foi decidido por Yahya Sinwar”, disse o chefe do Estado-Maior das FDI, Herzi Halevi. “Portanto, ele e todos os que estão abaixo dele são homens mortos.”

Isso inclui Mohammed Deif, o líder do braço militar do Hamas, as Brigadas Izzedine al-Qassam.

Hugh Lovatt, pesquisador de política do Conselho Europeu de Relações Exteriores (ECFR), acredita que Deif foi o cérebro por trás do planejamento do ataque de 7 de outubro porque foi uma operação militar, mas que Sinwar “provavelmente teria feito parte do grupo que planejou e influenciou”.

Israel acredita que Sinwar, que é efetivamente o segundo em comando depois do líder do Hamas, Ismail Haniyeh, está escondido em túneis abaixo de Gaza com os seus guarda-costas, sem se comunicar com ninguém por medo de que o seu sinal seja rastreado e localizado.

Educação e prisões

Sinwar, de 61 anos, conhecido como Abu Ibrahim, nasceu no campo de refugiados de Khan Younis, no extremo sul da Faixa de Gaza. Os seus pais eram de Ashkelon, mas se tornaram refugiados depois daquilo que os palestinos chamam de “al-Naqba” (a Catástrofe) – o deslocamento em massa de palestinos das suas casas na Palestina, na guerra que se seguiu à fundação de Israel em 1948.

Ele foi educado na Escola Secundária para Meninos Khan Younis e depois se formou em língua árabe pela Universidade Islâmica de Gaza.

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Retratos de crianças israelenses reféns exibidos em um comício em Tel Aviv

Naquela época, Khan Younis era um “bastião” de apoio ao antigo grupo islâmico radical Irmandade Muçulmana (fundado no Egito), diz Ehud Yaari, membro do Instituto de Política para o Oriente Próximo, em Washington, que entrevistou Sinwar quatro vezes na prisão.

O grupo islâmico “era um movimento massivo para jovens que iam para as mesquitas na pobreza do campo de refugiados”, diz Yaari, e mais tarde assumiria uma importância semelhante para o Hamas.

Sinwar foi preso pela primeira vez por Israel em 1982, aos 19 anos, por “atividades islâmicas” e depois preso novamente em 1985. Foi nessa época que ele ganhou a confiança do fundador do Hamas, que usava cadeira de rodas, Ahmed Yassin.

Os dois se tornaram “muito, muito próximos”, diz Kobi Michael, pesquisador sênior do Instituto de Estudos de Segurança Nacional de Tel Aviv. Essa relação com o líder espiritual da organização daria mais tarde a Sinwar um “efeito auréola” dentro do movimento, acrescenta Michael.

Dois anos depois da fundação do Hamas, em 1987, ele criou a temida organização de segurança interna do grupo, a al-Majd. Ele tinha apenas 25 anos.

Al-Majd ficou famoso por punir os acusados ​​dos chamados crimes de moralidade – Michael diz que tinha como alvo lojas que vendiam “vídeos de sexo” – e também por caçar e matar qualquer pessoa suspeita de colaborar com Israel.

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Um mural representando o falecido líder espiritual do Hamas, Sheikh Ahmed Yassin

Yaari diz que foi responsável por numerosos “assassinatos brutais” de pessoas suspeitas de cooperação com Israel. “Alguns deles com as próprias mãos e ele ficou orgulhoso disso, falando sobre isso para mim e para outros.”

De acordo com autoridades israelenses, ele confessou mais tarde ter punido um suposto informante, fazendo com que o homem fosse enterrado vivo pelo irmão, terminando o trabalho usando uma colher em vez de uma pá.

“Ele é o tipo de homem que consegue reunir ao seu redor seguidores, fãs e muitas pessoas que simplesmente têm medo dele e não querem brigar com ele”, diz Yaari.

Em 1988, Sinwar supostamente planejou o sequestro e assassinato de dois soldados israelenses. Ele foi preso no mesmo ano, condenado por Israel pelo assassinato de 12 palestinos e condenado a quatro penas de prisão perpétua.

Os anos de prisão

Sinwar passou grande parte da sua vida adulta – mais de 22 anos – em prisões israelenses, de 1988 a 2011. O tempo que passou lá, parte dele em confinamento solitário, parece ter feito com que ele ficasse ainda mais radicalizado.

“Ele conseguiu impor a sua autoridade de forma implacável, usando a força”, diz Yaari. Ele se posicionou como um líder entre os presos, negociando em seu nome com as autoridades penitenciárias e impondo a disciplina entre os presos.

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Um homem armado faz a segurança no palco enquanto Sinwar discursa no comício em 2021

Uma avaliação do governo israelense sobre Sinwar durante seu tempo na prisão o descreveu como “cruel, autoritário, influente e com habilidades incomuns de resistência, astuto e manipulador, contente com pouco… Mantém segredos mesmo dentro da prisão entre outros prisioneiros… Tem a habilidade de mover multidões”.

A avaliação de Yaari sobre Sinwar, construída ao longo dos tempos em que se conheceram, é de que ele é um psicopata. “[Mas] dizer sobre Sinwar: ‘Sinwar é um psicopata, ponto final’, seria um erro”, diz ele, “porque se trata de uma figura estranha e complexa.”

Ele é, diz Yaari, “extremamente astuto, astuto – um cara que sabe ligar e desligar um tipo de charme pessoal”.

Quando Sinwar dizia que Israel deveria ser destruído e insistia que não havia lugar para judeus na Palestina, “ele brincava: ‘Talvez abramos uma exceção para você'”.

Enquanto estava encarcerado, Sinwar se tornou fluente em hebraico, lendo jornais israelenses. Yaari diz que Sinwar sempre preferiu falar hebraico com ele, embora Yaari fosse fluente em árabe.

“Ele procurou melhorar seu hebraico”, diz Yaari. “Acho que ele queria se beneficiar de alguém que falasse um hebraico mais polido que o falado por guardas da prisão.”

Sinwar foi libertado em 2011 como parte de um acordo que resultou na libertação de 1.027 prisioneiros palestinos e árabes israelenses da prisão em troca de um único refém israelense, o soldado das FDI Gilad Shalit.

Shalit foi mantido em cativeiro durante cinco anos depois de ter sido sequestrado – entre outros – pelo irmão de Sinwar, que é um alto comandante militar do Hamas. Desde então, Sinwar pediu mais sequestros de soldados israelenses.

Nesta altura, Israel tinha terminado a ocupação da Faixa de Gaza e o Hamas estava no comando, tendo vencido uma eleição e depois eliminado os seus rivais, o partido Fatah de Yasser Arafat, atirando muitos dos seus membros do topo de edifícios altos.

Disciplina brutal

Quando Sinwar regressou a Gaza, foi imediatamente aceito como líder, diz Michael. Muito disso tinha a ver com o seu prestígio como membro fundador do Hamas, que sacrificou tantos anos da sua vida nas prisões israelenses.

Mas também, “as pessoas simplesmente o temiam – por ser uma pessoa que cometia assassinatos com as mãos”, diz Michael. “Ele era muito brutal, agressivo e carismático ao mesmo tempo.”

“Ele não é um orador”, diz Yaari. “Quando ele fala ao público, é como alguém da Máfia.”

Yaari acrescenta que imediatamente após sair da prisão, Sinwar também forjou uma aliança com as Brigadas Izzedine al-Qassam e com o chefe do Estado-Maior Marwan Issa.

Em 2013, foi eleito membro do Bureau Político do Hamas na Faixa de Gaza, antes de se tornar seu chefe em 2017.

O irmão mais novo de Sinwar, Mohammed, também desempenhou um papel ativo no Hamas. Ele alegou ter sobrevivido a várias tentativas de assassinato israelenses antes de ser declarado morto pelo Hamas em 2014. Desde então, surgiram relatos da mídia afirmando que ele ainda pode estar vivo, ativo na ala militar do Hamas, escondido em túneis sob Gaza e pode até ter desempenhado um papel nos ataques de 7 de outubro deste ano.

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Mohammed Sinwar

A reputação de crueldade e violência de Sinwar rendeu a ele o apelido de O Açougueiro de Khan Younis.

“Ele é um cara que impõe uma disciplina brutal”, diz Yaari. “As pessoas sabiam no Hamas e ainda sabem: se você desobedece Sinwar, você coloca sua vida em risco”.

Ele é considerado responsável pela detenção, tortura e assassinato, em 2015, de um comandante do Hamas chamado Mahmoud Ishtiwi, acusado de peculato e homossexualidade.

Em 2018, em um comunicado a meios de comunicação estrangeiros, ele defendeu que milhares de palestinos rompessem a barreira fronteiriça que separa a Faixa de Gaza de Israel como parte dos protestos contra a transferência da embaixada dos EUA de Tel Aviv para Jerusalém.

Mais tarde naquele ano, ele afirmou ter sobrevivido a uma tentativa de assassinato por parte de palestinos leais à rival Autoridade Palestina (AP) na Cisjordânia.

No entanto, também demonstrou períodos de pragmatismo, apoiando cessar-fogo temporário com Israel, trocas de prisioneiros e uma reconciliação com a rival Autoridade Palestina. Ele até foi criticado por alguns oponentes que o consideraram moderado demais, diz Michael.

Proximidade com o Irã

Várias pessoas ligadas às áreas de defesa e segurança de Israel acreditam que foi um erro fatal ter deixado Sinwar sair da prisão como parte da troca de prisioneiros.

Os israelenses sentem que foram enganados por uma falsa sensação de segurança, na crença errada de que, ao oferecer incentivos econômicos e mais autorizações de trabalho ao Hamas, o movimento teria perdido o interesse pela guerra.

“Ele se vê como o homem destinado a libertar a Palestina – o seu objetivo não é melhorar a situação econômica, nem os serviços sociais de Gaza”, diz Yaari.

Em 2015, o Departamento de Estado dos EUA categorizou oficialmente Sinwar como um “Terrorista Global Especialmente Designado”. Em Maio de 2021, ataques aéreos israelenses atingiram a sua casa e escritório na Faixa de Gaza. Em Abril de 2022, em um discurso televisionado, encorajou pessoas a atacar Israel por todos os meios disponíveis.

Os analistas o identificaram como uma figura-chave que liga o gabinete político do Hamas ao seu braço armado, as Brigadas Izzedine al-Qassam, que liderou os ataques de 7 de Outubro no sul de Israel.

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Sinwar (no centro) na fronteira com o Egito em 2017

Em 14 de outubro, um porta-voz militar israelense, o tenente-coronel Richard Hecht, chamou Sinwar de “a face do mal”. Ele acrescentou: “Esse homem e toda a sua equipe estão na nossa mira. Iremos alcançá-los.”

Sinwar também é próximo ao Irã. Uma parceria entre um país xiita e uma organização árabe sunita não é óbvia, mas ambos partilham o objetivo de acabar com o Estado de Israel e “libertar” Jerusalém da ocupação israelense.

Eles agora trabalham juntos. O Irã financia, treina e arma o Hamas, ajudando-o a desenvolver suas capacidades militares e a acumular um arsenal de milhares de foguetes, que utiliza para atingir cidades israelenses.

Sinwar expressou a sua gratidão pelo apoio em um discurso em 2021. “Se não fosse pelo Irã, a resistência na Palestina não teria as suas capacidades atuais”.

No entanto, matar Sinwar seria mais uma “vitória de relações públicas” para Israel do que realmente algo que impactaria o movimento, diz Lovatt.

As organizações não-estatais tendem a operar como a cabeça de uma hidra – um comandante operacional ou líder figurativo é removido e rapidamente substituído por outro. O seu sucessor por vezes carece da mesma experiência ou credibilidade, mas a organização ainda consegue se recuperar de alguma forma.

“Claramente, ele seria uma perda”, diz Lovatt, “mas seria substituído e existem estruturas para fazer isso. Não é como matar Bin Laden. Existem outros líderes políticos e militares importantes dentro do Hamas.”

Talvez a grande questão seja: o que acontecerá a Gaza quando Israel terminar a sua campanha militar para erradicar o Hamas, e quem acabará no comando?

E poderão impedir que se torne mais uma vez uma base de ataques contra Israel, desencadeando o tipo de retaliação destruidora que estamos assistindo agora?

Com reportagem adicional de Jon Kelly

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